São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2001

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Evento em São Paulo reúne músicos do Egito, Irã, Iraque, Israel, Líbano, Síria e Turquia

Nos passos de Abraão


Shows acontecem no Sesc Pompéia de quinta-feira até dia 8 de abril; os ingressos já estão à venda


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

O célebre caminho que Abraão percorreu desde o local de seu nascimento, Ur, na então Mesopotâmia, até Canaã, hoje Israel, será trilhado novamente. Desta vez, porém, a peregrinação será musical e acontecerá no palco do Sesc Pompéia, em São Paulo, entre os dias 29 de março e 8 de abril.
O evento "Rota de Abraão - Sob o Signo da Tolerância" reúne artistas de países hoje localizados na região atravessada por Abraão -considerado o "pai do monoteísmo", presente nas origens do catolicismo, do judaísmo e do islamismo, religiões também conhecidas como abraâmicas.
"A idéia foi reunir diferentes tradições culturais para discutir a tolerância na região. O evento não é político, e os artistas só concordaram em participar se esse tema não fosse abordado. O objetivo é mostrar a música dessas culturas ao público brasileiro e promover uma troca musical", diz João Carlos Couto, que é curador da "Rota de Abraão" e também atuou como programador do Fiac (Festival Internacional de Artes Cênicas).
Foram selecionados artistas do Egito, Irã, Iraque, Israel, Líbano, Síria e Turquia (veja programação ao lado). Dentro das delimitações culturais, existem ramificações. No caso de Israel, por exemplo, o representante é Emil Zrihan, que é natural do Marrocos e mostrará, além de música judaica, canções judaico-andaluzas e do folclore marroquino.
Do Líbano, virá Souer Marie Keyrouz, que mostrará músicas representantes do cristianismo no Oriente. Souer Marie se apresenta ao lado da Ensemble de la Paix, grupo que reúne muçulmanos, drusos e cristãos, fundado por ela durante a Guerra do Líbano.
Em entrevista à Folha, Souer Marie, radicada em Paris desde o começo dos anos 90, falou sobre o espaço da música clássica religiosa na atual indústria do entretenimento globalizada. "Não se deve assumir uma posição negativa em relação à indústria cultural dos EUA, mas tentar aproveitar a abertura a outras culturas e à tecnologia que existem hoje para dar destaque ao tradicional e a toda forma de arte que tenha uma valor humano e sagrado", disse.
Souer Marie diz que irá mostrar músicas de vários "trechos do trajeto" de Abraão. Assim, seu repertório inclui música bizantina ortodoxa, o canto siríaco (aramaico) e poemas líricos compostos por músicos contemporâneos muçulmanos. Souer Marie diz que convive e estuda essas tradições desde pequena. "O fato de cultivar música tradicional siríaca e maronita na minha família e bizantina na minha congregação deu-me a oportunidade de descobrir culturas de mais de 2.000 anos de existência e que são as bases da música oriental."
O representante da Turquia será Sabahat Akkiraz, filha de camponeses que pesquisa canções populares tradicionais do interior do país. Da Síria, o Ensemble Al-Kindi mostrará música tradicional árabe com um instrumento típico, o qanoum, também conhecido como cítara árabe.


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