São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Depois de Beatles, DJs misturam rapper com Weezer, Metallica e Mutantes

"Álbum preto" de Jay-Z ganha novas cores na web

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo começou com um sujeito de codinome Danger Mouse. Ao juntar o instrumental do "álbum branco" dos Beatles ("The Beatles", de 1968, popularmente conhecido como "White Album"), com os vocais do "álbum preto", do rapper Jay-Z ("The Black Album", de 2003), em fevereiro último, o DJ nova-iorquino conseguiu produzir não só o seu "álbum cinza" ("The Grey Album"), mas um ruído tamanho que foi parar nas manchetes dos jornais do mundo todo e na lista negra da gravadora EMI, detentora dos direitos das gravações dos Beatles. A moda pegou e, uma simples busca na internet hoje resulta em álbuns "marrom", "prata", "preto e azul", "preto duplo"...
"Gostei muito do que o Danger Mouse fez e fiquei até surpreso por ele não feito a versão do Metallica antes que eu. Considerando que os álbuns têm o mesmo nome, era uma combinação inevitável. Alguém tinha que fazê-la", declarou por e-mail o DJ Cheap Cologne, que há algumas semanas criou "The Double Black Album" (O Álbum Preto Duplo) ao combinar o mesmo Jay-Z com o disco de 1991 do Metallica, conhecido como "Black Album".
Depois de prensar cerca de 300 cópias em CD da "brincadeira" para distribui-las em shows de hip hop na região de Minnesota, Cologne tornou-se o "novo Danger Mouse" da internet e, em poucos dias, a exemplo de seu antecessor, já estava recebendo uma carta de repreensão em sua casa. Era a RIAA (Recording Industry Association of America), associação que cuida dos direitos dos artistas nos EUA - ainda que, da parte de Jay-Z, não houvesse problema, já que o próprio rapper lançou a versão só com vocais do seu álbum prevendo os remixes.
Já o Metallica, em 2000, foi o primeiro grupo do mainstream a levantar a bandeira contra o Napster e a sem-vergonhice na internet. "Foram só 300 cópias. Acho que o Metallica tem coisas maiores para se preocupar do que os meus 300 CDs. Se tivesse feito 20 mil, talvez houvesse uma ação legal", defende. "Vejo como uma forma de expor o Metallica a um público novo [fãs de rap]. Não quero destruir a música deles."
Seguindo a linha de Danger Mouse e de Cheap Cologne -juntar os vocais que o próprio Jay-Z liberou a outra gravação inusitada-, Mike G. criou em casa, na Filadélfia, o seu "The Black and Blue Album" (O Álbum Preto e Azul), criado a partir do primeiro CD da banda Weezer, batizado pelos fãs de "álbum azul".
"Eu fiz isso como uma tiração de sarro, para me divertir e fazer os meus amigos rirem. Nunca fui DJ, só toquei guitarra em bandas de indie rock por alguns anos, e tenho uma boa noção de computadores", afirmou Mike por e-mail. "Não tinha idéia que tantas pessoas ficariam sabendo. Nem todo mundo entende o espírito."
Ao contrário de Danger Mouse e de Cologne -que chegou a pedir contribuições de US$ 10 em seu site www.broke-ass.com-, Mike não fez cópias "físicas" das músicas que mixou (cinco até agora). Mas disponibilizou tudo em www.jay-zeezer.com.
Como eles, outros tantos músicos foram fisgados pela idéia do "álbum cinza" de Danger Mouse. O produtor Kev Brown fez suas próprias bases para a voz de Jay-Z e criou o seu "Brown Album" (Álbum Marrom). O rapper Kno, de Atlanta, usou até sample dos Mutantes em seu "The White Albulum" (O "Álbulum" Branco). Bazooka Joe, outro nome do underground americano, produziu "The Silver Album" (O Álbum Prata), acrescentando à base de Jay-Z trechos do produtor RJD2. Enfim, tem até quem fale em criar o "Technicolor Album"...
Piada? "Isso é violação de direitos autorais. Mesmo que a pessoa faça o remix e coloque na rede na maior boa-fé, não há como controlar quantas pessoas vão baixá-lo, "queimar" em CDs e sair vendendo por aí", alerta o advogado Nehemias Gueiros Jr., especialista em direitos autorais na internet.


Texto Anterior: Erika Palomino
Próximo Texto: Hermínio tenta reabilitar Aracy
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.