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"TRÊS ESTAÇÕES"
Produção faz do confronto o caminho para a aceitação
BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
S ão muitas as oposições que
norteiam "As Três Estações".
Seu autor, Tony Bui, é um vietnamita radicado desde os 2 anos nos
EUA, outrora inimigo ferrenho de
seu país natal. O filme é rodado no
Vietnã, mas é uma produção norte-americana, a primeira na história, vale frisar.
Um dos primeiros jogos de contrastes é o do ingênuo condutor
de táxi-bicicleta que se apaixona
por uma cética prostituta de luxo.
É, talvez, a mais clara alusão sobre
um país que se pergunta qual rumo seguir. De um lado, a obtenção do sustento surge de forma
fria, pragmática: quem paga mais,
leva; a outra possibilidade é seguir
o modelo tradicional, que pouco
oferece além de assegurar recursos básicos para a sobrevivência.
Há também o garoto pobre que
julga ter perdido seu ganha-pão
-uma maleta onde carrega os isqueiros e suvenires que vende-
para um ianque desocupado que
vive torrando seu dinheiro em birita. O gringo, por sua vez, tenta
afogar as lembranças da guerra
enquanto busca a filha que teve
com uma vietnamita, que só conhece por meio de um retrato.
Igualmente emblemática é a
história de um ancião recluso em
um templo. Deformado pela lepra, ele se vale de uma colhedora
de lótus para transcrever seus versos e resgatar seus laços com a humanidade.
Tony Bui não se vale de tais
oposições para tecer comentários
ingênuos sobre os contrastes do
Vietnã moderno, ainda que as
disparidades estejam presentes.
Seu olhar carrega um lirismo que
bebe tanto no Zhang Yimou, de
"Lanternas Mágicas", como no
De Sica, de "Ladrões de Bicicleta".
Para Bui, a confrontação não é
um fim em si mesma, mas, antes,
a forma de dar o passo adiante, de
atingir o progresso pessoal. O estranhamento mútuo é o ponto de
partida para chegar à compreensão.
As Três Estações
Three Seasons
Diretor: Tony Bui
Produção: EUA/Vietnã, 1998
Com: Don Duong, Nguyen Ngoc Hiep,
Harvey Keitel
Quando: a partir de hoje no Cinesesc
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