São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2000


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"TRÊS ESTAÇÕES"

Produção faz do confronto o caminho para a aceitação

BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

S ão muitas as oposições que norteiam "As Três Estações". Seu autor, Tony Bui, é um vietnamita radicado desde os 2 anos nos EUA, outrora inimigo ferrenho de seu país natal. O filme é rodado no Vietnã, mas é uma produção norte-americana, a primeira na história, vale frisar.
Um dos primeiros jogos de contrastes é o do ingênuo condutor de táxi-bicicleta que se apaixona por uma cética prostituta de luxo. É, talvez, a mais clara alusão sobre um país que se pergunta qual rumo seguir. De um lado, a obtenção do sustento surge de forma fria, pragmática: quem paga mais, leva; a outra possibilidade é seguir o modelo tradicional, que pouco oferece além de assegurar recursos básicos para a sobrevivência.
Há também o garoto pobre que julga ter perdido seu ganha-pão -uma maleta onde carrega os isqueiros e suvenires que vende- para um ianque desocupado que vive torrando seu dinheiro em birita. O gringo, por sua vez, tenta afogar as lembranças da guerra enquanto busca a filha que teve com uma vietnamita, que só conhece por meio de um retrato.
Igualmente emblemática é a história de um ancião recluso em um templo. Deformado pela lepra, ele se vale de uma colhedora de lótus para transcrever seus versos e resgatar seus laços com a humanidade.
Tony Bui não se vale de tais oposições para tecer comentários ingênuos sobre os contrastes do Vietnã moderno, ainda que as disparidades estejam presentes. Seu olhar carrega um lirismo que bebe tanto no Zhang Yimou, de "Lanternas Mágicas", como no De Sica, de "Ladrões de Bicicleta".
Para Bui, a confrontação não é um fim em si mesma, mas, antes, a forma de dar o passo adiante, de atingir o progresso pessoal. O estranhamento mútuo é o ponto de partida para chegar à compreensão.


As Três Estações
Three Seasons     Diretor: Tony Bui Produção: EUA/Vietnã, 1998 Com: Don Duong, Nguyen Ngoc Hiep, Harvey Keitel Quando: a partir de hoje no Cinesesc




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