|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JVC JAZZ FESTIVAL
MPB fecha com sucesso sua quarta noite no evento
CARLOS CALADO
enviado especial a Nova York
A música popular brasileira e o
jazz norte-americano convivem
desde os tempos de Pixinguinha,
na década de 20, mas raramente
estiveram tão próximos como no
show de anteontem do JVC Jazz
Festival, em Nova York.
Batizado de "Brazilian Jazz Ensemble", o programa reuniu os
cantores João Bosco e Leny Andrade, o violonista Toninho Horta
e o pianista Egberto Gismonti,
com suas respectivas bandas, no
palco do Avery Fisher Hall.
Durante quase três horas, a platéia nova-iorquina presenciou um
rico e diversificado painel das relações da música brasileira com o
jazz -desde a bossa nova até o
instrumental contemporâneo.
Egberto Gismonti abriu a noite,
junto com dois talentosos parceiros que o acompanham desde os
anos 70: Zeca Assumpção (contrabaixo) e Nando Carneiro (teclados). Tocando somente composições próprias, o pianista carioca
comandou uma apresentação tão
curta quanto impactante.
A performance do trio revelou
não apenas uma coesão musical
quase telepática, mas também demonstrou como o improviso do
jazz e a bagagem harmônica da
música erudita coexistem de modo criativo no universo sonoro de
Gismonti. Um grupo como esse
tem passagem garantida em qualquer festival de jazz do mundo.
Única representante da geração
da bossa nova no concerto, Leny
Andrade elevou mais ainda a temperatura. Muito bem acompanhada por seu trio, já entrou cantando
uma suingada seleção de samba-jazz, devidamente temperada
por uma exibição de "scat" (improviso com onomatopéias).
Em seu número de maior efeito,
a cantora homenageou Tom Jobim. Curiosamente, escolheu a
mesma canção que Gal Costa cantara na véspera: "Dindi". Numa
abordagem mais dramática, utilizando ao máximo os graves de seu
privilegiado vozeirão, Leny arrancou gritos da platéia.
Esperta, a cantora fechou sua
apresentação com um clássico do
jazz moderno: "Night in Tunisia".
A composição do trompetista
Dizzy Gillespie ganhou uma versão com molho de samba, que incluiu outra deliciosa sessão de scat
à capela (sem acompanhamento
instrumental).
Aplaudida de pé pela platéia
(com mais norte-americanos do
que brasileiros nessa noite), Leny
provou que não deve nada às
grandes cantoras do jazz.
A atração seguinte da noite brasileira foi Toninho Horta, que depois de gravar pelo selo norte-americano de jazz Verve é mais conhecido da platéia local.
Antecipando seu próximo disco,
o músico mineiro também homenageou Tom Jobim, acompanhando-se ao violão. Pediu que a platéia estalasse os dedos para acompanhá-lo em uma releitura personalíssima de "Amor em Paz".
Já ao lado de sua banda, que incluiu Lena Horta (flauta) e os norte-americanos Mark Egan (baixo)
e Billy Drews (sax), Horta comandou uma bela versão da balada
"Stella by Starlight". O inusitado
sabor mineiro da interpretação
agradou bastante à platéia.
Fechando a noite, João Bosco
entrou no palco com uma pequena seleção extraída do primeiro time de instrumentistas brasileiros:
Nico Assumpção (baixo), Ricardo
Silveira (guitarra), Robertinho Silva (bateria) e Armando Marçal
(percussão).
O cantor abriu seu show com
dois números de impacto. "Incompatibilidade de Gênios" mostrou Bosco improvisando sobre a
letra original e Robertinho e Marçal dando uma exibição especial
com tamborins. Em seguida, veio
"Zona de Fronteira", revisitada
em andamento frenético, novamente com muita liberdade nos
improvisos da sessão rítmica.
Para seu fã-clube, Bosco não negou uma seleção de seus hits, que
inclui "Desenho de Giz", "Papel
Marchê" e "Corsário" -todas recheadas de scats.
Depois de quatro noites, com
ótima frequência de público, a
música brasileira fecha sua participação no JVC Festival com saldo
bastante positivo. A MPB invadiu
de vez a praia oficial do jazz.
O jornalista
Carlos Calado viajou a convite da
JVC do Brasil e da United Airlines.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|