São Paulo, sexta, 26 de junho de 1998

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MULTIMÍDIA
Gwyneth Paltrow mostra a que veio


De namorada de Brad Pitt, atriz vira a nova queridinha de Hollywood


DEMETRIOS MATTHEOU
do "The Independent on Sunday"

A primeira vez que notaram Gwyneth Paltrow, ela foi decapitada e teve sua cabeça colocada numa caixa no filme "Seven, os Sete Pecados Capitais".
Em seguida, ela foi vista como a loira nos braços de seu parceiro de "Seven", o ator Brad Pitt, parecendo bonita, mas distraída, sob os flashes dos fotógrafos que seguiam o casal. Ela era reconhecida como "a namorada de Brad Pitt". A jovem atriz corria sério risco de se tornar, nos filmes e na vida, nada mais que um acessório.
Que diferença fez um papel! E um fim de namoro! Desde "Emma", a adaptação da obra de Jane Austen em que Paltrow demonstrou posição, presença de espírito e capacidade rara entre norte-americanas para representar uma perfeita inglesa, sua estrela está em ascensão.
Com "Grandes Esperanças" nos cinemas do mundo inteiro, o britânico "Sliding Doors" em cartaz no Reino Unido e "A Perfect Murder", um remake de "Disque M para Matar" (de Alfred Hitchcock), com Michael Douglas e Paltrow no papel que foi de Grace Kelly, que será lançado até o final do ano, ela está provando sua versatilidade.
Paltrow ainda estrela o suspense "Segredo de Sangue" (Hush), dirigido por Jonathan Darby, que estréia hoje em São Paulo e traz Jessica Lange no elenco.
Ao escapar da sombra de Brad Pitt (o casal se separou em junho do ano passado), a atriz de 25 anos tem agora um reconhecimento que vem de seu talento.
No início deste ano, Paltrow estava no Festival de Berlim para promover "Grandes Esperanças". Mas ela irritou a 20th Century Fox -o estúdio por trás da pobre adaptação da obra de Dickens- por promover "Sliding Doors". Paltrow se mostrou esfuziante com o filme, de baixo orçamento, cujo papel foi escolhido no lugar de um outro mais badalado.
Apesar de ser cortejada por toda Hollywood, ela não parece ter muita empolgação com projetos milionários. Dizem que Paltrow recusou o papel principal de "Titanic". "Eu só faço o que quero e não me importo com a repercussão ou com o que as pessoas dizem", disse a atriz. "Estou nos filmes que gosto. Pode ser uma megaprodução da Warner ou um filme menor na Inglaterra."
Semanas depois de Berlim, Paltrow estava novamente no Reino Unido para filmar "Shakespeare in Love", onde faz uma musa. O roteiro é de Tom Stoppard e a direção, de John Madden, de "Mrs. Brown".
Paltrow é inteligente, divertida e modesta. Confirmando sua preferência por filmes europeus ou independentes -embora faça grandes produções para agradar a seus agentes-, ela fala sobre "A Perfect Murder": "Parece que eu estou me vendendo, mas não é isso. Não é sobre alienígenas. Não é idiota... totalmente!".
Ela se refere a "Grandes Esperanças" como "um delicioso doce para os olhos" e parece gostar apenas de três de seus filmes: "Emma" ("eu não o amo, mas é OK"), "Sliding Doors" e "Hard Eight", a estréia do diretor de "Boogie Nights", Paul Thomas Anderson.
O resto é colocado na mesma sacola: "Jefferson em Paris" ("ruim", ela diz, mas com o filme Paltrow aprendeu francês), "O Primeiro Amor de um Homem" (um veículo para David Schwimmer, da série "Friends") e "O Círculo Vicioso - A Vida de Dorothy Parker".
Ela gosta do Reino Unido. "Tenho medo que eles tirem minha permissão de trabalho, porque já existem atrizes demais na Inglaterra para que uma americana venha tomar seus papéis", brinca Paltrow, com seu sotaque nova-iorquino.
Enquanto atores britânicos são aceitos sem problemas em papéis de norte-americanos -caso de Gary Oldman, Tim Roth, Ian Holm, Anthony Hopkins ou Minnie Driver-, o tráfego transatlântico parece só de uma via.
Os americanos aparentemente não querem interpretar britânicos. Paltrow é uma exceção, uma anglófila devota, com interesse por tudo que é europeu -ela fala espanhol e francês, com italiano na agenda para o verão.
"Sliding Doors", estréia na direção e roteiro do ator Peter Howitt, é uma comédia romântica inteligente e complexa. A personagem de Paltrow, uma publicitária londrina, é jogada em duas estórias paralelas que começam com ela primeiro pegando um trem, depois perdendo-o quando a porta se fecha- daí o título, "portas deslizantes".
Diferentes estilos de cabelo facilitam a compreensão das estórias por parte da platéia, mas é a atuação de Paltrow que faz a maior parte do trabalho. Ela atualizou seu sotaque inglês (trabalhado em "Emma") para fazer uma perfeita londrina dos anos 90.
"Muita gente perguntou porque eu coloquei uma americana no papel de uma britânica", afirmou Howitt. "É pura hipocrisia. Eu queria Paltrow desde que a vi em "Emma'. Muitas atrizes seriam mais teatrais naquela situação, mas ela apenas interpretou uma jovem. Era o que eu pensava -uma mulher do dia-a-dia, completamente natural."
O passado de Paltrow está bem longe do comum. Seus pais são a atriz de teatro Blythe Danner e o produtor de televisão Bruce Paltrow, conhecido pelo drama de hospital "St. Elsewhere".
Ela cresceu cercada pela realeza norte-americana -amigos dos Paltrow incluem as famílias Douglas e Spielberg. Quando ela tinha 11 anos, a família mudou-se de Los Angeles para Nova York, adicionando um pouco da sofisticação da Costa Leste ao seu apadrinhamento da Costa Oeste. Hoje, ela prefere Nova York.
Ela sabia que queria ser atriz desde pequena. Quando criança, Paltrow ficava vagando pelo palco enquanto a mãe atuava. Fez a jovem Wendy em "Hook", depois de reencontrar Steven Spielberg numa fila de cinema.
Mais velha, deixou o curso na Universidade da Califórnia para atuar. "Meus pais queriam que eu fosse uma antropóloga, algo mais acadêmico." Aos 19 anos, a atriz debutou para valer com "Flesh and Bone".
"Ela não é uma atriz treinada e isso é um dos seus diferenciais. Ela é incrivelmente instintiva", diz Howitt. Paul Thomas Anderson também se derrete em elogios. "Ela é daquelas atrizes que ficam batendo papo entre as tomadas, e, quando você diz "ação' -bum!-, ela se transforma." Harvey Weinstein, o homem por trás do estúdio independente Miramax, acha que Paltrow é "uma das melhores atrizes dos Estados Unidos".
Depois de "Shakespeare in Love", Paltrow irá trabalhar com outro britânico: Anthony Minghella (diretor de "O Paciente Inglês"), na sua adaptação do thriller "O Talentoso Mr. Ripley", de Patricia Highsmith.
Seu parceiro na tela é Matt Damon, cujo melhor amigo, Ben Affleck, é o novo namorado de Paltrow. Tirando suas lições do passado ("eu contribui muito para toda aquela febre da mídia, falava demais"), a atriz está muda sobre seu novo amor. Mas e o próximo projeto, que tal "Pânico 3"? Ela ri. "Que tal não?"


Tradução Denise Bobadilha




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