São Paulo, sexta, 26 de junho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
É a primeira vez que as esculturas do artista franco-alemão são reunidas em uma mostra exclusiva
Exposição revela o Max Ernst escultor

Divulgação
Obra do artista franco-alemão Max Ernst, que está em exposição no Centro Georges Pompidou, em Paris


RODRIGO AMARAL
de Paris

Uma exposição de esculturas em cartaz em Paris revela o lado menos conhecido da obra de Max Ernst, artista franco-alemão que é considerado um dos principais nomes da arte surrealista.
Cento e dez de suas obras estão sendo exibidas até o dia 27 de julho no Centro Georges Pompidou, principal museu de arte moderna da capital francesa. Segundo a organização, é a primeira vez que as esculturas de Ernst são reunidas em uma mostra exclusiva.
Para quem aprecia a hermética arte surrealista, trata-se de uma boa oportunidade de conferir a visão de Ernst , e do movimento em geral, sobre a escultura.
Surrealismo é o nome como ficou conhecido um movimento artístico surgido nos anos 20 que pregava a liberação da arte das restrições postas pelo racionalismo.
Ou seja, os surrealistas defendiam a representação de imagens do subconsciente por meio de imagens que remetem ao universo dos sonhos , por exemplo.
Os surrealistas mais conhecidos pelo público são pintores: o espanhol Salvador Dalí, o francês René Magritte e o próprio Max Ernst. Mas outras formas de arte também abraçaram o movimento, como a literatura (com, por exemplo, os poetas franceses André Breton e Paul Eluard) e o cinema (o diretor espanhol Luís Buñuel é o representante mas famoso).
Em relação à escultura, porém, os surrealistas mostraram, em princípio, uma certa reticência: como uma arte baseada na modelação da matéria poderia servir para representar conceitos tão abstratos como defendia o movimento?
Um dilema que não chegou a incomodar Max Ernst, que, antes da irrupção do surrealismo, morava em Colônia (Alemanha) e militava nos quadros do movimento dadaísta. O dadaísmo, surgido nos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, pregava a revolta total contra os conceitos artísticos vigentes e foi uma espécie de precursor do surrealismo.
Os dadaístas não faziam nenhuma restrição à escultura. Pelo contrário: o escultor podia usar o material que melhor lhe aprouvesse para se expressar por meio de uma obra de arte.
Pedras
Seguindo essa linha de pensamento, Max Ernst utilizou desde pedras até fios de cabelo, vasos de flores e ferramentas agrícolas em suas composições. É exemplar, nesse sentido, a série de obras conhecida como "As Pedras de Maloja", que está em exposição no Georges Pompidou.
Ernst se impressionou com algumas pedras que encontrou no leito de um rio quando passava o verão de 1934 em uma propriedade rural do também escultor Alberto Giacometti. Após pequenas pinturas ou outros detalhes acrescentados, considerou a obra pronta.
"Maravilhosamente erodidas pelo tempo, gelo e intempéries, elas são esplêndidas por si. A mão humana nada tem a acrescentar", escreveu ele na época.
O trabalho do artista, nesse caso, era encontrar as pedras. O trabalho de quem vê a obra, por sua vez, é dar um significado a ela.
Mais trabalhadas foram as rochas que deram origem à bem-humorada série "Corpo Docente para uma Escola de Assassinos", composta por três figuras de bandidos de entre 1,5m e 2m que encerram a exposição.
É a obra mais fácil de apreciar da mostra. Como é comum no surrealismo, a interpretação das esculturas, muitas vezes, depende do conhecimento de fatos da vida do autor.
O movimento sofreu forte influência da psicanálise, o que é bem exemplificado pela importância que dá aos sonhos e outras manifestações do subconsciente.



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