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TEATRO
Lourenço Gomes, atual pároco, não vê problema na remontagem da peça na igreja Santa Ifigênia em São Paulo
Veto é contraponto à mobilização de 92
DA REPORTAGEM LOCAL
A perspectiva de veto para a remontagem de "O Paraíso Perdido" é um contraponto à mobilização da classe teatral e, sobretudo,
da ala progressista da igreja, dom
Paulo Evaristo Arns à frente, então cardeal-arcebispo de São Paulo, quando da estréia do espetáculo em 5 de novembro de 92, na
igreja Santa Ifigênia.
Houve pressões de grupos católicos conservadores. Antes e depois da estréia. Em forma de vigília, na frente da igreja, em Santa
Cecília, ou por meio de telefone
ou carta anônimos.
Num dos trechos de carta enviada ao diretor Antônio Araújo, lê-se em tom de ameaça: "V.S. [vossa senhoria] não teme pela saúde
dos seus? Não teme um acidente
qualquer?".
O atual pároco da igreja Santa
Ifigênia, Lourenço Gomes, 49, assistiu à montagem original, dez
anos atrás. "Eu me recordo bem.
Era um drama existencial do ser
humano quando perde o paraíso,
em outras palavras, a felicidade, o
bem-estar, a paz, esses valores
que dão sentido e alegria à vida, e
vem toda a dor, a angústia, a fadiga, a tristeza, para depois ele reencontrar o caminho de Deus", descreve Gomes.
"O Paraíso Perdido", uma releitura do poema clássico homônimo de John Milton (1608-1674),
trata da expulsão do Éden, as
agruras e questionamentos de um
Anjo Caído.
Mediante o pedido do Teatro da
Vertigem para remontar a peça
na igreja, o padre Lourenço Gomes reuniu o conselho pastoral da
paróquia, que, como ele, não viu
problema na volta do projeto.
Apesar da negativa inicial, o grupo mantém negociações com outras igrejas da cidade para conseguir o aval do arcebispo.
Na autobiografia "Ninguém se
Livra de Seus Fantasmas", a ser
lançada na próxima semana, a
atriz Nydia Licia lembra que a
montagem no TBC de "Entre
Quadro Paredes", de Jean-Paul
Sartre, em 1950, levou a Cúria
paulistana a publicar o seguinte
comunicado nos jornais, assinado pelo cônego Roque Viggiano,
chanceler do arcebispado:
"Comunico aos fiéis da Arquidiocese que está anunciada a representação, num dos teatros
desta capital, da peça "Entre Quatro Paredes", do romancista existencialista [Jean-] Paul Sartre,
através da qual se pretende ensinar e pregar, em plena luz do dia,
a prostituição da família e da juventude brasileiras. Tendo sido
condenadas pela Santa Sé as
obras desse autor, por imorais, os
fiéis não poderão assistir, sem pecado grave, à referida representação". Eterno retorno?
(VS)
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