São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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SAGRADO E PROFANO

Sem alarde, operadoras investem nos dois mercados; produtora já faz filme pornô para telefone

Celular faz a festa com erotismo e religião

DA REPORTAGEM LOCAL

Pacote nš 1: assista a um clipe erótico, destrua os bloquinhos e veja a foto sensual de uma bela garota ou de um fortão, conheça as posições do "Kama Sutra" ou receba informações sobre acompanhantes, motéis e casas de "strip".
Pacote nš 2: ouça "Erguei as Mãos", do padre Marcelo Rossi, ou o último sucesso do rock evangélico, leia salmos, contos bíblicos e mensagens do papa.
Ninguém vê propaganda desses serviços, mas eles estão entre os mais rentáveis para as operadoras de celular no Brasil. Sem fazer alarde, as grandes empresas do setor miram o mercado religioso e o erótico e preparam novos produtos para os dois "nichos".
É frenético o ritmo com que operadoras de telefonia móvel fazem parcerias com fornecedores do chamado conteúdo "sagrado e profano". As negociações envolvem, de um lado, igrejas católicas e evangélicas, e, de outro, até distribuidoras de filmes pornôs.
A Buttman, maior produtora de vídeos pornográficos do Brasil, já se prepara para desenvolver produtos para a telinha. Em princípio, negocia com a Vivo o fornecimento de fotos para uma espécie de manual de posições sexuais. A operadora, que já oferece aos assinantes clipes sensuais, também cogita, em médio prazo, comprar da produtora curtos vídeos de sexo explícito.
"Ainda não está fechado, mas podemos chegar a ter filmes pornôs. O interesse pelo erotismo é uma tendência mundial, intrínseco à natureza humana, e não poderia estar fora de nossa oferta de serviços", diz Roger Solé, diretor de negócios e dados da Vivo.
Além de clipes e fotos, a operadora tem jogos com temática sexual para o público masculino e o feminino. Em um deles, quanto mais o usuário conseguir destruir bloquinhos, mais aparece uma foto de uma modelo seminua.
"Antes, oferecíamos "games" apenas para homens, com fotos de garotas, mas as clientes começaram a ligar dizendo que queriam uma versão feminina. Não é só porque tratamos de sexo que temos de ser sexistas", diz.
Segundo Solé, os vídeos sensuais (assinatura mensal por $ 9,99) estão entre os três mais baixados pelos clientes. De acordo com ele, a Vivo tem 1,5 milhão de clientes que usam o WAP (net via celular) por mês. Desses, 250 mil entram em conteúdo religioso e erótico. "Costumamos brincar dizendo que o assinante primeiro peca e depois vai se confessar."
Na Oi, os clipes da revista "Sexy" são os recordistas em download. Para baixar cada vídeo, paga-se R$ 1,99. A operadora tem também fotos das "garotas morango" e piadas eróticas. "É uma demanda natural e tomamos precauções para que o acesso seja controlado", diz Alberto Blanco, diretor de marketing de varejo da Telemar, dona da marca Oi.
Blanco afirma que o consumo de produtos religiosos também é grande. Há ringtones (músicas de toque) do padre Marcelo, salmos, mensagens bíblicas e até trechos do livro "Minutos de Sabedoria".

Made in Brazil
Além do consumo interno, o Brasil começa a exportar conteúdos eróticos de celular para outros países, especialmente China e Japão, primeiro e terceiro colocados no número de usuários de telefones móveis (dado da Anatel, de dezembro de 2003).
Uma das líderes do país, a empresa mineira TakeNet já abriu uma filial nos EUA (o segundo maior mercado de celular no mundo) e exporta imagens de modelos brasileiras para as telinhas asiáticas. Para isso, foram contratados fotógrafos e videomakers que passaram a se especializar na captação para celular.
"Eram profissionais de outras mídias que agora estão se adaptando à nova linguagem. O celular exige contrastes, cores fortes e uma câmera com menos movimento", explica Marcelo Costa de Oliveira, diretor de tecnologia e inovação. A companhia também vende cenas de paisagens e festas brasileiras. "Aproveitamos o interesse de estrangeiros por tudo o que tem origem no Brasil."
A TakeNet já negocia com operadoras nacionais. "O consumo erótico, assim como na internet, é forte no celular. As operadoras ainda têm muita precaução e controle, já que há o risco de associar sua marca à pornografia. Mas certamente olham com atenção para esses conteúdos", afirma Oliveira.
Paralelamente ao "profano", a TakeNet investe no "sagrado". Fornece salmos, clipes e ringtones gospel, entre outros exemplos. (LAURA MATTOS)


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