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Crítica/"Hamaca Paraguaya"
Filme paraguaio premiado em Cannes tem proposta formal ambiciosa e difícil
DO CRÍTICO DA FOLHA
Primeiro filme paraguaio
desde 1978, "Hamaca
Paraguaya", longa de estréia da diretora Paz Encina
provocou surpresa no último
Festival de Cannes, onde recebeu o Prêmio da Crítica. A reação de Cannes é benéfica porque o trabalho dificilmente alcançaria maiores repercussões
fora do âmbito de festivais, dadas suas peculiaridades.
O filme se aparenta ao do argentino Lisandro Alonso, "Os
Mortos", ambos cineastas
adeptos de um cinema da contemplação, que pode fascinar
alguns espectadores como também irritar outros, que, diante
desse tipo de obra, podem ter a
impressão de "não acontece
nada".
A proposta da diretora paraguaia é formalmente ambiciosa
e de difícil absorção. Em longos
planos fixos vemos um casal de
velhos evocar o filho, que partiu
para a Guerra do Chaco (contra
a Bolívia, em 1935).
A ausência é acentuada pelos
latidos de um cão e pela espera
da chuva. Todo o filme se articula a partir desses mínimos
elementos, com os quais a diretora enfatiza sua especial atenção aos ritmos.
Tempo
O trabalho (na lavoura, na casa) serve para pontuar a passagem do tempo, mas é o tempo
como dimensão que dá corpo à
expectativa o que interessa à
diretora. Como encenar através das imagens a espera?
Daí a entrada da natureza como o ponto forte do filme. Os
sons exercem força essencial,
com os barulhos do vento nas
árvores, dos animais e dos trovões captados com uma sutileza assombrosa.
Dessa maneira, a diretora
Paz Encina consegue capturar
o espectador sem recorrer à
psicologia. Pouco ficamos sabendo do casal além da informação sobre o filho. Os diálogos são sobrepostos às imagens
sem necessariamente vermos
os atores dialogarem. As falas,
desconectadas das imagens,
acentuam seu lugar numa espécie de extratempo, oriundas
de uma outra dimensão além
ou aquém do presente.
Essa encenação em camadas,
parecida com a estrutura complexa de uma tapeçaria, abre o
filme para uma dimensão panteísta, onde os acontecimentos
são substituídos por uma percepção cósmica, e com isso o cinema mostra, mais uma vez,
aquilo de que é capaz.
(CSC)
HAMACA PARAGUAYA
Direção: Paz Encina
Onde: hoje, às 16h, no Cine Bombril Sala 1; amanhã, às 22h, no Frei Caneca
Arteplex 2; seg., às 20h10, no Frei Caneca Arteplex 3
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