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CINEMA ESTRÉIA
"A Fortuna de Cookie" é quase farsa, diz diretor
MARIE-THÉRÈSE DELBOULBES
da France Presse, em Paris
Para Robert Altman, seu filme
mais recente, "A Fortuna de Cookie", é "como uma rosa: parece
simples, mas é mais complexo do
que aparenta ser".
O veterano cineasta de 74 anos
de idade, 30 dos quais envolvidos
com o cinema (veja filmografia
nesta página), fala com humor e
afeto de seus personagens e das
filmagens do trabalho no Mississippi, entre blues e churrascos.
Com sua barba branca e seu aspecto de velha patriarca sulista,
Altman desta vez volta sobre a sociedade um olhar muito mais indulgente e menos cínico do que
em seus filmes anteriores.
"O importante é o comportamento dos personagens", explica.
"Todos eles estão um pouco deslocados. Não chega a ser uma farsa, mas é quase isso."
"A Fortuna de Cookie" -que
chega hoje às telas brasileiras,
com Glenn Close, Julliane Moore
e outros grandes nomes no elenco- estreou simultaneamente
nos EUA e na França, onde Altman viveu por vários anos e onde
ainda vive seu filho Stephen, que
também cuida dos cenários de
seus filmes.
Marginal em relação aos grandes estúdios de Hollywood (criticados com ironia em "O Jogador"), Altman constata que, como acontece com Woody Allen,
seus filmes fazem mais sucesso na
Europa do que nos Estados Unidos, onde seu trabalho anterior,
"The Gingerbread Man" -ainda
inédito no Brasil-, foi "demolido" pela distribuição de apenas 17
cópias para o mercado.
Tensão contida
Altman filmou "A Fortuna de
Cookie" em Holly Springs, no
Mississippi, "uma vila de 7.500
habitantes, esquecida pelo tempo.
Os jovens foram embora. A população é metade branca e metade
negra. Não existe racismo manifesto, mas ele está ali, expresso sutilmente, por baixo da superfície.
A tensão existe, mas não se expressa abertamente. As pessoas
não se misturam."
O lugar foi descoberto por David Stewart, que compôs a música
do filme e que esteve em Holly
Springs oito ou nove anos atrás
para produzir um documentário
("Deep Blues").
"A Fortuna de Cookie" é um filme sobre segredos de família", diz
Altman. Numa cidadezinha pequena, todo mundo conhece os
segredos de todo mundo, mas
ninguém fala disso. Alugamos
umas 30 casas em Holly Springs, e
a pessoa em cuja casa nos hospedamos sabia de tudo que fazíamos", conta.
O filme também é um trabalho
em família, para o qual Altman
chamou seus dois filhos: Stephen,
cenógrafo e assistente de direção,
e Robert Reed, que trabalhou na
direção de fotografia.
Novo filme
Altman já está preparando um
novo filme, que vai se chamar
"Doctor T. and the Women"
(Doutor T. e As Mulheres).
O novo filme contará a história
de um ginecologista perturbado
pelo universo feminino que o rodeia. Sua mulher é louca e ele tem
três filhas, uma das quais lésbica.
O cineasta aproveita sua estada
na França para procurar financiamento para a nova produção e explica que já faz algum tempo que
o dinheiro para seus filmes vem
principalmente da Europa.
Tradução Clara Allain
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