"Flechas do Anjo do Esquecimento", de Sinisterra, aborda memória e identidade

DA REPORTAGEM LOCAL

A memória, para o dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra, 69, pode ser o começo e também o fim da identidade. Essa ambiguidade perpassa todo o texto da peça "Flechas do Anjo do Esquecimento", que terá leitura dramática hoje, no auditório da Folha.
"Tudo aquilo que lembramos faz parte do que somos", explica o autor. "Mas, ao mesmo tempo, a memória é uma morte, uma esclerose, já que nos impede de mudar, de ser os outros que temos dentro de nós." A história de "Flechas do Anjo do Esquecimento" -que foi montada pela primeira vez em 2004, na Espanha- transcorre na sala de espera de uma clínica. Apresentados a uma jovem que sofre de amnésia, quatro personagens defendem sua certeza de que ela fez parte da vida deles. O problema é que, para cada um deles, a jovem é uma pessoa diferente.
"Faço um questionamento sobre até que ponto os outros nos constroem. As pessoas próximas, familiares, amigos, nos impõem uma identidade. O esquecimento aqui é uma espécie de liberdade", diz Sinisterra.
O dramaturgo dirige a leitura, que terá os atores Pedro Neschling, Alejandra Sampaio, Gabriela Fontana, Eveline Maria, Kiko Marques, Virginia Buckowski e Patrícia Gordo.
Em janeiro, o espanhol volta ao Brasil para ensaiar com o elenco a montagem, que estreia em São Paulo no final de fevereiro.
À equipe que o ajudará nessa empreitada o dramaturgo pediu apenas que esquecesse a montagem espanhola. "Quero fazer diferente a partir do mesmo. Repetir a montagem de lá seria me submeter à memória."