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Argentino usa história de mecânico para tratar de civilização e barbárie
"El Ardor", em cartaz na Mostra Sesc, tem direção de Ricardo Holcer
LUCAS NEVES
DE SÃO PAULO
Conversar com o diretor
Ricardo Holcer se assemelha
muito a entrevistar um Gerald Thomas argentino.
Reveste a fala dos dois o
espanto com a consciência
do mundo e os imperativos
racionalistas, aristotélicos.
Ambos recorrem a episódios
como a queda do Muro de
Berlim e o 11 de Setembro para mostrar o efeito de "rolo
compressor" dos acontecimentos sobre o pensamento.
"Que racionalidade é esta
que estamos construindo
num mundo em que dois
aviões se chocam contra prédios?", provoca Holcer, no
encontro em que fala da peça
"El Ardor", apresentada hoje
na Mostra Sesc de Artes.
Em cena, um mecânico
(Marcelo D'Andrea, também
autor do texto) sente um revertério intestinal depois de
comer um prato de locro (espécie de feijoada argentina).
Enquanto isso, tenta consertar um motor cujas descargas elétricas fazem vir à
tona os vários personagens
que o habitam: o Pai, a Mãe...
"Isso expressa a tensão entre civilização e barbárie, linguagem e fala", diz o diretor.
"Cada crise orgânica expressa uma crise social. Ele as expõe uma a uma, mesmo não
sabendo de onde vêm. É a
união de público e privado,
história pessoal e social."
Apesar disso, Holcer hesita em identificar uma dimensão político-ideológica em
seu teatro. "Me interessa
mais uma política de sentido.
Proponho o sensorial, que
atinge o acontecimento e
chega ao corpo do espectador. Desse teatro de representação, narrativo e psicologista, estou de saco cheio."
Colocar em xeque essa vertente naturalista é uma de
suas obsessões artísticas. "O
teatro tem de mostrar que
não somos só êxito ou fracasso. Misturamos tempos, fantasmas, histórias. A memória
é uma bagunça. Por que fazer
este teatro mentiroso, como
se a memória fosse um lugar
seguro a acessar?"
EL ARDOR
QUANDO hoje, às 21h
ONDE Sesc Ipiranga
(r. Bom Pastor, 822, Ipiranga,
tel. 0/xx/11/3340-2000)
QUANTO R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
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