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Irmão põe mais "ficção" à vida de McEwan
Após longa busca, pedreiro inglês encontra o irmão mais novo sem saber que ele era um autor famoso
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os enredos dos romances do
escritor britânico Ian McEwan,
58, costumam ser criativos e intrigantes: um neurocirurgião
que se salva de um assalto
usando argumentos científicos
("Sábado"), um homem que desenvolve uma síndrome obsessiva depois de sofrer um acidente com um balão ("Amor
para Sempre"), uma menina
que, com uma simples travessura, arruina para sempre a vida de um casal ("Reparação").
Nenhum deles, entretanto,
parece se comparar com a vida
do próprio autor, que, vira-e-mexe, ganha mais um capítulo
surpreendente, fazendo a festa
da fofoqueira mídia britânica.
A mais recente foi o surgimento, na semana passada, de
um irmão mais velho, sobre o
qual nunca havia sido informado pelos pais. Dave Sharp, 64,
por sua vez, sabia ser filho adotivo desde a adolescência, mas
só há cinco anos quis saber
mais sobre a verdadeira família. Com a ajuda do Exército de
Salvação, rastreou e acabou encontrando seu irmão mais novo. A história de ambos começou em 1942. Rose Wort, casada com um soldado que lutava
na Segunda Guerra Mundial,
começou um romance com outro homem, David McEwan.
Engravidou e, desesperada
com a idéia de que o marido
voltaria do campo de batalha
para ter essa ingrata surpresa,
resolveu doar o bebê. Colocou
um anúncio no jornal e, pouco
depois, entregava a criança para um casal numa estação de
trem, em Berkshire (sudeste da
Inglaterra).
Só que o marido de Rose
nunca voltou para casa, pois
morreu durante a batalha do
Dia D. A moça, então, acabou
casando com o amante e, com
ele, teve um outro filho, Ian.
Sharp, que é pedreiro, não tinha idéia de que seu irmão era
um escritor famoso, mas parece ter ficado inspirado, porque
agora quer escrever a história
desse encontro numa biografia.
Filhos "seqüestrados"
Entre as passagens seminovelescas da vida de McEwan está o "seqüestro" de seus filhos
adolescentes pela própria mãe,
em 1999. Penny Allen, inconformada com o fato de que o escritor havia ganho na Justiça a
guarda dos garotos, fugiu com
eles para a França, onde, por
sua vez, vivia seu novo amante.
Telefonemas anônimos e
acusações mútuas estampadas
nos jornais britânicos fizeram
parte do drama até seu desenlace, quando McEwan recuperou
seus direitos e pôde levar os
meninos para casa.
No mesmo ano, o escritor
também havia dado seu próprio drible na realidade, mostrando que havia enganando
parte da comunidade científica
da Inglaterra. Passados dois
anos do lançamento de "Amor
para Sempre", McEwan veio à
público contar que a síndrome
da qual um dos personagens sofria (chamada de síndrome de
Clérambault) era totalmente
fictícia, apesar de creditada como real num apêndice ao final
do livro. O tal era assinado por
dois "cientistas", Robert Wenn
e Antonio Camia, anagramas de
seu próprio nome.
O caso só veio à tona quando
dois psiquiatras do Royal Hospital de Londres disseram ter
pesquisado os registros dos
médicos do Reino Unido e não
encontraram nenhuma referência aos citados Wenn e Camia. McEwan, então, abriu o jogo e disse que tudo não passava
de uma brincadeira.
Curiosamente, o próximo capítulo da história do autor pode
rolar por aqui. Seu filho Greg,
que o acompanhou na Festa Literária de Paraty, em 2004,
apaixonou-se por uma brasileira, de Uberlândia, onde, então,
aprendeu a falar português.
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