São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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Irmão põe mais "ficção" à vida de McEwan

Após longa busca, pedreiro inglês encontra o irmão mais novo sem saber que ele era um autor famoso

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os enredos dos romances do escritor britânico Ian McEwan, 58, costumam ser criativos e intrigantes: um neurocirurgião que se salva de um assalto usando argumentos científicos ("Sábado"), um homem que desenvolve uma síndrome obsessiva depois de sofrer um acidente com um balão ("Amor para Sempre"), uma menina que, com uma simples travessura, arruina para sempre a vida de um casal ("Reparação").
Nenhum deles, entretanto, parece se comparar com a vida do próprio autor, que, vira-e-mexe, ganha mais um capítulo surpreendente, fazendo a festa da fofoqueira mídia britânica.
A mais recente foi o surgimento, na semana passada, de um irmão mais velho, sobre o qual nunca havia sido informado pelos pais. Dave Sharp, 64, por sua vez, sabia ser filho adotivo desde a adolescência, mas só há cinco anos quis saber mais sobre a verdadeira família. Com a ajuda do Exército de Salvação, rastreou e acabou encontrando seu irmão mais novo. A história de ambos começou em 1942. Rose Wort, casada com um soldado que lutava na Segunda Guerra Mundial, começou um romance com outro homem, David McEwan.
Engravidou e, desesperada com a idéia de que o marido voltaria do campo de batalha para ter essa ingrata surpresa, resolveu doar o bebê. Colocou um anúncio no jornal e, pouco depois, entregava a criança para um casal numa estação de trem, em Berkshire (sudeste da Inglaterra).
Só que o marido de Rose nunca voltou para casa, pois morreu durante a batalha do Dia D. A moça, então, acabou casando com o amante e, com ele, teve um outro filho, Ian.
Sharp, que é pedreiro, não tinha idéia de que seu irmão era um escritor famoso, mas parece ter ficado inspirado, porque agora quer escrever a história desse encontro numa biografia.

Filhos "seqüestrados"
Entre as passagens seminovelescas da vida de McEwan está o "seqüestro" de seus filhos adolescentes pela própria mãe, em 1999. Penny Allen, inconformada com o fato de que o escritor havia ganho na Justiça a guarda dos garotos, fugiu com eles para a França, onde, por sua vez, vivia seu novo amante.
Telefonemas anônimos e acusações mútuas estampadas nos jornais britânicos fizeram parte do drama até seu desenlace, quando McEwan recuperou seus direitos e pôde levar os meninos para casa.
No mesmo ano, o escritor também havia dado seu próprio drible na realidade, mostrando que havia enganando parte da comunidade científica da Inglaterra. Passados dois anos do lançamento de "Amor para Sempre", McEwan veio à público contar que a síndrome da qual um dos personagens sofria (chamada de síndrome de Clérambault) era totalmente fictícia, apesar de creditada como real num apêndice ao final do livro. O tal era assinado por dois "cientistas", Robert Wenn e Antonio Camia, anagramas de seu próprio nome.
O caso só veio à tona quando dois psiquiatras do Royal Hospital de Londres disseram ter pesquisado os registros dos médicos do Reino Unido e não encontraram nenhuma referência aos citados Wenn e Camia. McEwan, então, abriu o jogo e disse que tudo não passava de uma brincadeira.
Curiosamente, o próximo capítulo da história do autor pode rolar por aqui. Seu filho Greg, que o acompanhou na Festa Literária de Paraty, em 2004, apaixonou-se por uma brasileira, de Uberlândia, onde, então, aprendeu a falar português.


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