da Reportagem Local

"Further Fantasy", mostra que a galeria italiana Marconi, em Milão, inaugura amanhã, deve cutucar a onça com vara curta. É que o tema proposto pela curadoria, o uso de peles em criações artísticas e de moda, é caro a ecologistas do mundo inteiro.
Mas Franca Sozzani, editora da "Vogue Itália" e uma das curadoras (ao lado de Giò Marconi e Lucca Suppini), não se perturba. "Não me preocupo, pois se isso fosse levado a sério, ninguém usaria sapatos de couro, não comeria carne etc. Os animais que fornecem as peles não estão em risco de extinção. São criados como se criam os porcos e as galinhas", disse.
A mostra conta com obras feitas por alguns dos estilistas mais importantes do mundo, como Christian Lacroix, Rifat Ozbek, Vivienne Westwood, Dolce & Gabbana, Tom Ford, Miuccia Prada, Karl Lagerfeld, Manolo Blahnik, Jean Paul Gaultier, John Galliano e outros.
"Cada um deu sua própria interpretação ao tema. Mas não é que eles fizeram vestidos com as peles. Dolce & Gabbana, por exemplo, fizeram um quarto com paredes cobertas por um tecido estampado de leopardo e um tapete de vison no chão. Lacroix fez um vestido de noite todo de peles com uma caixa cheia de néon dentro", disse.
O próprio nome da mostra prefere omitir a palavra "fur" (pele) e criar um jogo de palavras com o termo: "further fantasy" (além da fantasia). "Não queria usar a palavra "peles" no título da mostra, pois não é sobre peles de uma maneira tradicional", disse.
A mostra traz ainda cerca de cem fotografias publicadas na "Vogue", dos anos 60 até hoje, assinadas por nomes como Bruce Weber, Albert Watson, Ugo Mulas, Helmut Newton, Steven Meisel e muitos outros. "Mas todos com a idéia de que as peles não são um produto tradicional, clássico e burguês, mas sempre vistas como um produto fantasioso e divertido", esclareceu Sozzani.
Um terceiro núcleo da mostra contará com obras de artistas modernos e contemporâneos, como Matt Collishaw ("Leopard Skin Lilly"), ateliê Van Lieshout ("Six Women Bed") e Meret Oppenheim, que comparece com uma réplica de "Le Déjeuner en Fourrure", sua obra mais clássica, e dois cartazes assinados por ela. "Le Déjeuner..." é composto por xícara, pires e colher envoltos por peles.
A galeria Marconi é uma das mais tradicionais do país e possui grandes coleções de fotografias de Man Ray e de trabalhos de Lucio Fontana. A mostra comemora o 50º aniversário da entidade International Fur Trade Federation.


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