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DOCUMENTÁRIO
Músicos recusam filiação exclusiva à Tropicália em panorama da MPB fim-de-século
Filme divide "filhos do tropicalismo"
ANTONIO CARLOS DE FARIA
da Sucursal do Rio
Mostrar um panorama da música popular brasileira do final do
século é o objetivo de um documentário que a VideoFilmes começou a gravar na semana passada e que estreará em Paris, em
maio. Por resistência de parte dos
artistas convidados em se enquadrarem como herdeiros do tropicalismo, o documentário permanece sem título.
Inicialmente, o filme iria se chamar "Os Filhos do Tropicalismo".
Agora, seus produtores procuram
um novo nome para a obra, que
parte da percepção de que a música popular brasileira reconquistou nesta década o lugar de destaque que havia perdido nos anos
80 para o rock nacional.
Anteontem, no MAM (Museu
de Arte Moderna) do Rio, a instalação "Tropicália", de Hélio Oiticica, foi montada especialmente
para o filme. Foi usada como ambiente para depoimentos e performances de Gilberto Gil, Chico
César e Caetano Veloso.
Lenine, Fernanda Abreu, Jovi,
Pedro Luiz e os integrantes do
grupo A Parede se apresentaram
nos jardins do MAM, longe da
instalação, obra de 1967 que deu
origem ao nome do movimento.
O distanciamento desses artistas em relação ao cenário das gravações sintetizou a recusa em ser
reconhecidos como filhos de uma
única linhagem musical, enfatizando que o trabalho que desenvolvem é fruto de múltiplas influências.
Gil e Caetano afirmaram que
um dos méritos do tropicalismo
foi a pluralidade, o que abriu espaços dentro da cultura nacional,
inclusive para quem hoje não se
vê como herdeiro do movimento.
"Nós não criamos um estilo
musical, mas uma atitude pluralista. Hoje, vejo que a música do
país tem várias atitudes, situação
para a qual contribuiu a inserção
do tropicalismo", disse Gil.
"O tropicalismo é o avesso da
sofisticação da bossa nova. Tudo
o que ela rejeitou o tropicalismo
abraçou, o que incluiu a música
de mau gosto, o brega, o rock, a
jovem guarda, a violência das palavras e das imagens", disse Caetano, instigado a dar uma definição concisa para o movimento.
A idéia de realizar um registro
da música nacional a partir dos
anos do movimento tropicalista
foi do produtor musical francês
Bruno Boulay, um dos maiores
difusores dos novos músicos brasileiros no exterior.
Rogério Gallo, diretor do documentário, reconhecido pela implantação da MTV brasileira,
acha positivo o clima de debate
sobre a participação dos artistas.
"Queremos fazer um trabalho
documental que reproduza a atitude do tropicalismo, mas não retratar toda a música popular atual
como filha do tropicalismo", afirmou. Além do Rio, haverá também depoimentos de artistas em
São Paulo, Recife e Salvador.
Um dos pontos altos das gravações no Rio foi o depoimento de
Caetano logo após percorrer a
instalação. Ele lembrou que Oiticica apoiou os tropicalistas no início do movimento, mas depois se
desiludiu com seus integrantes,
quando os viu se incorporar à
música comercial do país.
"Os garotos que hoje demonstram um certo desprezo e irritação, quando se fala em Caetano e
Gil, fazem bem e isso é até desejável", disse Caetano, para quem o
comportamento é próximo ao inconformismo de Oiticica, que viveu no "limite do suportável, para
ele e para o mundo".
Caetano fez um elogio apaixonado a Tom Zé. "A obra e a vida
profissional de Tom Zé podem
ser vistas como uma crítica muda
a essa adequação em que nós (os
outros tropicalistas) estamos."
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