São Paulo, Sábado, 27 de Março de 1999
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FESTIVAL DE CURITIBA
Espetáculo do português Tiago Torres da Silva estréia hoje no evento paranaense e no dia 6 em SP
Portugal saúda o mar em "Alfonsina"

ERIKA SALLUM
da enviada a Curitiba

A nova dramaturgia portuguesa marca presença hoje no 8º Festival de Teatro de Curitiba, a mais importante mostra teatral do país, que termina amanhã após dez dias de eventos e apresentações de 52 peças.
O dramaturgo e diretor lisboeta Tiago Torres da Silva exibe, às 21h30, o monólogo "É o Mar, Alfonsina, É o Mar!", interpretado pelo português José Neves.
O espetáculo mostra a busca incessante de um homem por sua amada, a poeta argentina Alfonsina Storni (1892-1935), que se suicidou se atirando ao mar.
A peça estreou em Lisboa no dia 10 de novembro. De 1º a 4 de abril, a montagem fica em cartaz na Casa da Gávea, no Rio, e, no dia 6, haverá uma única apresentação no Sesc Pompéia, em São Paulo. Depois, o monólogo segue para Caracas (Venezuela) e Macau.
Tiago Torres da Silva, 29, é também autor da peça "Almas sem Cabelos" e do romance "Um S a Mais", lançado recentemente em seu país, em que conta a história de um doente com o vírus da Aids.
Silva diz que está atualmente envolvido com a preparação de um novo disco e um show da brasileira Elza Soares, que deve estrear brevemente em Portugal.

Maturidade
""É o Mar" é, sem dúvida, meu espetáculo mais maduro e o mais livre, no qual eu pude abertamente não me importar se as pessoas apreciariam ou não", diz ele, que conheceu a poeta por meio da canção "Alfonsina y el Mar".
Para Silva, a peça é sobre "a procura de nós mesmos, o que significa sempre um ato de amor, entrega e despojamento".
Antes de escrever a obra, o dramaturgo convidou o ator José Neves para, juntos, criarem a montagem. Nada havia sido combinado previamente, nem ao menos o tema a ser trabalhado.
Neves, 33, ex-estudante de física da Universidade de Coimbra, faz parte do elenco do Teatro Nacional Dona Maria 2ª, em Lisboa.
"Por meio dos movimentos de Neves, de suas sugestões, íamos escrevendo o texto. A relação do ator com o mar me lembrou Alfonsina", afirma o diretor.
Nascido no interior de Portugal, em Guarda, Neves conta que integra o pequeno grupo de portugueses que nada têm a ver com o mar. "Sempre tive problemas com ele, não sou propriamente um nadador, então há uma certa ironia nisso tudo", diz o ator, que pela primeira vez faz um monólogo.
A trilha sonora de "É o Mar, Alfonsina, É o Mar!" se compõe de vozes de cantoras, de Amália Rodrigues a Gal Costa, extraídas de pequenos trechos de músicas, num emaranhado de sons femininos que termina por simbolizar a própria Alfonsina Storni.
Quase não há palavras escritas pela poeta no espetáculo, que, segundo Silva, conserva, no entanto, seu universo. "A poesia de Alfonsina é muito mutante, e o ator vai acompanhando essas transformações no palco, num envolvimento e emoção que, para mim, são lindos", finaliza.

Quando: hoje, às 21h30, e amanhã, às 20h, no teatro Paiol (praça Garibaldi, 7, Prado Velho, Curitiba, tel. 041/322-1525). R$ 20


A jornalista Erika Sallum viaja a convite da organização do festiva


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