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CRÍTICA
Autor atinge feridas entre MPB e regime militar
DA REPORTAGEM LOCAL
A parábola fixada por Zuza
Homem de Mello no subtítulo de "A Era dos Festivais" define a trajetória de ascensão e queda artística dos heróicos festivais
musicais que revelaram quase todo mundo que se conhece até hoje entre os veteranos da MPB.
Curiosamente, o livro por si é o
inverso dessa mesma parábola.
Começa morno, pelos muito e
sempre rememorados festivais de
65, 66 e 67 -em que brilharam
Elis Regina, Chico Buarque, Geraldo Vandré, Edu Lobo, Caetano
Veloso, Gilberto Gil.
Mas a parábola de Zuza só vai ficar literalmente eletrizante ao
abordar a fase mais obscura dos
festivais, após o garrote de 68. A
partir daí, é prender o fôlego e
mergulhar no inacreditável.
A história trágica de Geraldo
Vandré é narrada como nunca
antes. Sem precisar ser explícito, o
autor destrincha como Vandré se
desestruturou por si, encurralado
de um lado pela espreita militar,
de outro pelo avanço modernizador do tropicalismo.
Parte dali para desanuviar outra
figura de proa da resistência de esquerda -o até hoje discreto Gutemberg Guarabyra.
Esmiúça sob a ótica da MPB as
dramáticas dualidades de 1970,
quando militantes de esquerda
organizavam festivais para a servil Rede Globo e artistas negros
pretensamente despolitizados
abalavam os nervos do regime.
Novamente sem apelar à explicitação, Mello vai narrando a ruína de Toni Tornado (prisão, exílio, abandono de carreira promissora), Erlon Chaves (prisão, morte por infarto), Tibério Gaspar
(afirmação pelo colunista Ibrahim Sued de que sua "BR-3" era
sobre drogas), enfim Wilson Simonal.
Simétrico à direita de Vandré,
Simonal era o artista mais popular do Brasil em 70. Entretinha o
público do FIC enquanto não se
sabia se quem ia vencer era Tornado (então namorando a atriz
branca Arlete Salles) ou Erlon
(idem com Vera Fischer). Em 72,
Simonal estaria definitivamente
arruinado por envolvimento com
militares, processos, prisão, acusações de deduragem.
Mello deixa ao leitor a tarefa de
articular tantas informações e
chegar a conclusões próprias sobre elas -esse é um dos maiores
trunfos de seu livro. Outro é a reunião minuciosa e obsessiva de toneladas de informações preciosas
(e muitas vezes praticamente inéditas) sobre o período mais feérico da "moderna MPB".
Deviam-se ao Brasil pós-militar
livros assim ambientados no universo cultural, Mello faz-se primeiro agente do acerto de contas.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
A Era dos Festivais - Uma
Parábola
Autor: Zuza Homem de Mello
Editora: 34
Quanto: R$ 54 (528 págs.)
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