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COMENTÁRIO
Sociologia perde com descrédito atual
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Estranhar a eleição de Paulo Coelho para a Academia
Brasileira de Letras é levar excessivamente a sério a instituição.
Ivo Pitanguy é da Academia, ou
da "Acadimia", como eles gostam
de dizer, e o único significado literário disso é a ironia de haver um
cirurgião plástico entre os imortais. Em compensação, outro acadêmico, o general Lyra Tavares,
não foi um best-seller; nunca se
rendeu, como escritor, às imposições do mercado, pela simples razão de que nunca foi um escritor.
Claro que um erro não justifica
outro. A quantidade de escritores
ruins na ABL não garante automaticamente uma vaga para ninguém.
O escândalo, antes, era quando
um grande escritor confessava a
vaidade de querer ser acadêmico.
O progresso da caretice no país
recupera a ABL, determina as altas tiragens das revistas de celebridades e transforma o antigo
parceiro de Raul Seixas num sensato conselheiro dominical.
O feitiço sumiu com o feiticeiro.
Achar Paulo Coelho bom ou mau
escritor importa tanto quanto
acreditar ou não na existência de
duendes. Cada homem vale o que
vende, e a revista "Caras" é a única prova da existência de quem
quer que seja.
Só li "As Valquírias". Escrevi
um artigo pichando. Depois, fiquei sem graça quando conheci o
autor pessoalmente.
Sua simpatia desarma qualquer
um. Mais que simpatia: ele transmite um afeto imediato, como se
nossas opiniões, idéias e gostos literários não tivessem a menor importância.
Lamento a derrota de Hélio Jaguaribe. Ele é também de uma
simpatia esfuziante, além de magnetizar o interlocutor pelo brilho
da inteligência e pela capacidade
espantosa de articulação verbal.
A sociologia e a ciência política,
que tantas vezes cederam à tentação da profecia e do esoterismo,
saem perdendo do episódio. Um
descrédito bem previsível nos
dias que correm. Maktub! Estava
escrito.
Não vence o esoterismo, mas
sim a política de celebridades e de
popularização levada adiante pela
Academia.
Entre uma eleição na ABL e o
desfecho do "Big Brother", qual a
diferença? O mundo de "O Clone"
se cruza com o do marquês de
Maricá. Faltam odaliscas, talvez,
para animar a festa. Mas o chá das
cinco já deve ser um poderoso
alucinógeno.
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