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RELÂMPAGOS
Centro da cidade
JOÃO GILBERTO NOLL
Precisava descobrir como
arrancar a corrente de ferro
do meu tornozelo. Falei que ia
no consultório da doutora
Vera. "Ah", o porteiro respondeu sem me olhar. A sala
de espera, vazia. Sentei, olhei
o inchaço do pé acorrentado.
Peguei uma revista despedaçada, adormeci. Passou-se
muito tempo, acho, porque
uma parte de mim batia de
noite numa porta, cães ladravam, certamente atiçados pelo meu miasma de terror. Eu
batia, batia, até uma ventania
levar o meu chapéu. Debruçada sobre meu ronco, me
acordando, sim, a doutora,
em seu jaleco meio aberto,
entremostrava seios nos
quais fui de pronto para fugir
dos cães. No desvairado regalo, ouvia um arrastar dos grilhões. Que jeito?, eu vinha de
séculos, e só agora encontrava uma, ah!, uma taverna, enfim...
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