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TEATRO
"Ator e Estranhamento", de Eraldo Pêra Rizzo, chega às lojas esta semana
Livro revela papel de Kusnet em dilema da interpretação
Livro revela papel de Kusnet em dilema de interpretação
FERNANDO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma das mais duradouras polêmicas teatrais no século 20 opôs a
interpretação com base nas emoções e na identificação entre ator e
personagem à interpretação crítica, avessa ao envolvimento do artista com os sentimentos da figura
que representa. Tempo e esforço
foram gastos, mas com o que hoje
parece ser um falso problema.
O ator, diretor e professor Eraldo Pêra Rizzo trata do assunto em
"Ator e Estranhamento - Brecht e
Stanislavski, segundo Kusnet",
que chega às lojas esta semana.
Sem deixar de sublinhar diferenças, ressalta as afinidades entre o
russo Konstantin Stanislavski e o
alemão Bertolt Brecht ao abordar
o papel do sentimento e o da razão no desenho dos personagens.
As tendências dos mestres
acham "a síntese possível" nos
ensinamentos do ator russo Eugênio Kusnet (1898-1975), que emigrou ao Brasil em 1926. Kusnet
soube traduzir as lições stanislavskianas aplicando-as à interpretação de grandes peças de
Brecht. Mal-entendidos a respeito
de Stanislavski podem ter origem
na defasagem com que foram publicados três de seus livros mais
importantes, divulgados com distância de mais de dez anos entre
um e outro. A recepção norte-americana fixou-se na primeira
fase, que enfatiza o trabalho do
ator sobre as próprias emoções.
Mas Stanislavski não se deteve
nessa fase, ao contrário do que
pretenderam os mentores do Actors Studio, na Nova York dos
anos 50. Se, no primeiro livro, ele
"se atém mais às ações internas,
pensamentos e visualizações"
operadas pelo ator, nos seguintes
irá tratar da fala e do movimento,
chegando ao conceito de ações físicas e ao método da análise ativa.
O mestre russo prescreve procedimentos pelos quais o intérprete
se apropria aos poucos do texto,
sempre a partir de ações concretas: "A emoção é decorrência", diz
Rizzo com apoio em Kusnet.
Brecht contribuiu para confusões em torno do efeito de estranhamento obtido quando o ator
critica o personagem, emprestando-lhe sua consciência. Teórico
pouco sistemático, Brecht usou
idéias como armas retóricas, destinadas à polêmica. A ênfase atribuída por ele à necessária lucidez
do ator não visava descartar as
emoções. Kusnet reuniu os passos
recomendados pelo conterrâneo
aos propósitos críticos de peças
como "A Alma Boa de Setsuan",
de Brecht. A emoção passa a ser
ponto de chegada no trabalho do
intérprete.
Fernando Marques é jornalista, professor do Centro Universitário de Brasília e
mestre em literatura brasileira pela UnB
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