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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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ANÁLISE

Rede regional pode se tornar alternativa

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O maior produtor de televisão do Brasil; o artífice da Hollywood brasileira está de volta. Depois de um longo processo de negociação, ele ressurge em Taubaté, terra do estúdio de Mazzaropi. Em breve sua influência se sentirá além dos limites do Vale do Paraíba.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que ajudou a construir a Rede Globo, é agora sócio majoritário dos antigos patrões em uma rede regional de TV.
O ex-empregado volta pela margem, mas como dono. A rede possui duas geradoras e 46 transmissoras, um bom tamanho para uma base estratégica, capaz de reconduzir o profissional mais qualificado da indústria televisiva ao centro dos acontecimentos.
O momento é apropriado. Há poucas semanas da morte do dr. Roberto Marinho, em meio à mais grave crise já enfrentada pelas Organizações Globo, a emissora do Jardim Botânico sofre ainda a longa ausência de sua sucessora, Marluce Dias, em licença por motivos de saúde.
O cenário nacional é propício. O Congresso discute legislação que favorece programações regionais e produções independentes. A chegada iminente da televisão digital é mais um fator de mudança em jogo.
Há tempos, Boni vem sinalizando o esgotamento do modelo que ajudou a criar. Em várias ocasiões o profissional concedeu entrevistas em que apontou a tendência à regionalização da TV. Ainda no final dos anos 90, emissoras locais, como o Channel 1 de Nova York, apareceram em seu discurso como exemplos da capilaridade desejada.
O sensacionalismo que tomou conta da programação televisiva também foi alvo de sua crítica. Define telejornais apelativos -como o "Aqui Agora" ou "Cidade Alerta"- como de mau gosto. O mesmo vale para os "reality shows", carentes da dramaturgia autoral que fez o sucesso da emissora sob a sua direção.
Não que durante os anos 70 e 80 tudo fossem flores. Difícil classificar como belos programas como o infantil da Xuxa, mas de fora é sempre mais fácil criticar. Boni tem agora a chance de produzir alternativas.
O desafio não é elementar. Boni dirigiu com mão-de-ferro uma empresa centralizada em tempos em que o regime autoritário favorecia rígidas estruturas hierárquicas. Sua saída da Globo foi acompanhada por um projeto descentralizador coerente com a administração mais horizontal, regional e diversificada que o conceito contemporâneo de rede sugere.
Em entrevista publicada no último domingo no jornal "O Estado de S.Paulo", Boni sugere que sua rede regional pode funcionar como um laboratório de novos formatos, coisa que TVs públicas um dia já fizeram. A combinação de sotaques regionais com o know-how metropolitano tem tudo para sacudir a pasmaceira atual.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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