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ANÁLISE
Rede regional pode se tornar alternativa
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
O maior produtor de televisão do Brasil; o artífice da
Hollywood brasileira está de volta. Depois de um longo processo
de negociação, ele ressurge em
Taubaté, terra do estúdio de Mazzaropi. Em breve sua influência se
sentirá além dos limites do Vale
do Paraíba.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que ajudou a construir a
Rede Globo, é agora sócio majoritário dos antigos patrões em uma
rede regional de TV.
O ex-empregado volta pela
margem, mas como dono. A rede
possui duas geradoras e 46 transmissoras, um bom tamanho para
uma base estratégica, capaz de reconduzir o profissional mais qualificado da indústria televisiva ao
centro dos acontecimentos.
O momento é apropriado. Há
poucas semanas da morte do dr.
Roberto Marinho, em meio à
mais grave crise já enfrentada pelas Organizações Globo, a emissora do Jardim Botânico sofre ainda
a longa ausência de sua sucessora,
Marluce Dias, em licença por motivos de saúde.
O cenário nacional é propício. O
Congresso discute legislação que
favorece programações regionais
e produções independentes. A
chegada iminente da televisão digital é mais um fator de mudança
em jogo.
Há tempos, Boni vem sinalizando o esgotamento do modelo que
ajudou a criar. Em várias ocasiões
o profissional concedeu entrevistas em que apontou a tendência à
regionalização da TV. Ainda no
final dos anos 90, emissoras locais, como o Channel 1 de Nova
York, apareceram em seu discurso como exemplos da capilaridade desejada.
O sensacionalismo que tomou
conta da programação televisiva
também foi alvo de sua crítica.
Define telejornais apelativos
-como o "Aqui Agora" ou "Cidade Alerta"- como de mau
gosto. O mesmo vale para os "reality shows", carentes da dramaturgia autoral que fez o sucesso da
emissora sob a sua direção.
Não que durante os anos 70 e 80
tudo fossem flores. Difícil classificar como belos programas como
o infantil da Xuxa, mas de fora é
sempre mais fácil criticar. Boni
tem agora a chance de produzir
alternativas.
O desafio não é elementar. Boni
dirigiu com mão-de-ferro uma
empresa centralizada em tempos
em que o regime autoritário favorecia rígidas estruturas hierárquicas. Sua saída da Globo foi acompanhada por um projeto descentralizador coerente com a administração mais horizontal, regional e diversificada que o conceito
contemporâneo de rede sugere.
Em entrevista publicada no último domingo no jornal "O Estado
de S.Paulo", Boni sugere que sua
rede regional pode funcionar como um laboratório de novos formatos, coisa que TVs públicas um
dia já fizeram. A combinação de
sotaques regionais com o know-how metropolitano tem tudo para
sacudir a pasmaceira atual.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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