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Festival de Curtas seleciona de Truffaut a Jean Vigo
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A carta de filmes franceses do
Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que começa hoje e vai até 5 de setembro, traz uma das cineastas dos tempos da nouvelle
vague: Agnès Varda. Há também
um punhado de outros trabalhos
franceses que reforçam a idéia de
que a curta metragem é o paraíso
da criatividade e do risco.
Com "O Leão Volátil", Varda
retoma o pessoal para balizar a
ficção. Uma mulher conhece um
homem na praça Denfert-Rochereau. Entre futuro (ela é auxiliar
de uma vidente) e passado (ele é
segurança de um museu), há a famosa estátua de bronze do Leão
de Belfort que amalgama ambos
os tempos, ou o casal.
François Truffaut
O diretor tem dois programas
no festival que tratam não apenas
do seu trabalho na curta metragem como também da reverência
de cineastas ao trabalho deste que
foi um dos pais do cinema moderno. Hoje há, pelo menos, duas peças imperdíveis: "Antoine e Colette" e "Léaud Mostra os Dentes".
O primeiro -continuação de
"Os Incompreendidos" rodada
por Truffaut em 1962- traz de
volta o personagem de Antoine
Duhamel, agora mais crescido e
às voltas com uma garota (a bela
Marie-France Pisier). Um dos traços de seu cinema está aqui, o do
amor sendo tanto desequilíbrio
quanto combustível da vida.
Pois o ator-fetiche deste e de toda a série que se estenderia por
quase duas décadas, Jean-Pierre
Léaud, é o tema do documentário
de Jacques Richard, "Léud Mostra
os Dentes" (2003). É ele, Léaud,
quem passeia por entre os túmulos do cemitério de Montparnasse
relembrando Truffaut, Jean Seberg, Henri Langlois, Jacques
Demy, refazendo (oralmente e em
algumas cenas antigas) todo um
pensamento fermentado nos
anos 60, a década dos projetos políticos, das barricadas de Paris etc.
Há, ainda, o documentário
(saudosista) "François Truffaut",
de Laurent Chartin e Thierry Deshayes, curioso por só usar as falas
do diretor e de seus personagens.
No programa 2, exibido na próxima quarta, há o clássico "Os Pivetes", que é nada menos que o
segundo filme de Truffaut.
O programa "Coleção Canal +",
exibido hoje, traz produções feitas
pela TV francesa. "Hollywood
Apesar Dele", de Pascal-Alex Vincent, é a pedida, uma vez que o
seu "Far West" (2003) é uma razoável comédia de erros, premiada no Festival de Oberhausen.
Dessa geração recente de cineastas, entretanto, não há páreo
neste Festival de Curtas para Nicolas Saada. Não só porque ele estará em solo paulistano, apresentando seu curioso trabalho "Paralelas", mas porque muito da visão
que ele soltou nas páginas da revista "Cahiers du Cinéma" (e em
três roteiros que foram para o cinema) tem parte traduzida neste
seu primeiro filme na direção.
Há um quê do Godard de "Detetive" (85) nesta obra sobre um
homem inescrupuloso que volta a
Paris e desencadeia um descompasso na vida de algumas pessoas.
A não confundir, "Paralelas" será exibido neste domingo no Espaço Unibanco, às 19h, no programa "Semana da Crítica".
Poesia da luz
Jean Vigo tem na mostra um
bom exemplo de cinema de poesia. "A Natação Segundo Jean Taris" (31), incluído no programa
"Fair Play", fala menos de natação
e mais de cinema, ainda que sob
encomenda da Gaumont para
uma série de documentários. Rascunha o que faria mais tarde, em
"O Atalante" (34), quando opta
por imagens que sugerem outras
coisas além do mostrado na tela.
Vigo utilizou aquela que talvez
seja a primeira câmera subaquática da história para mostrar uma
"aula" do campeão Jean Taris. O
importante, parece, é fazer com
que os enquadramentos, o som e
a montagem mudem a impressão
das coisas, dando à luz um cunho
estético impressionante.
Este diretor é quase como uma
criança em descoberta do mundo
(do cinema), neste curta que resume em parte a fama do cinema
francês como sítio de exercício
das formas.
(PAULO SANTOS LIMA)
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