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CINEMA/ESTRÉIA
"O ARTICULADOR"
Com Al Pacino no papel principal, filme chega a SP antes de NY
Longa projeta honestidade rara no cinema americano
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
"O Articulador " entra
em cartaz em São Paulo
antes de estrear em Nova York,
sua cidade-cenário. Por lá, o lançamento está previsto para 2003,
quem sabe. O motivo do desprezo
é misterioso, mas talvez tenha alguma coisa a ver com algumas
das melhores qualidades do filme.
Este segundo longa de Dan Algrant (de "Nu em Nova York",
1994) traz uma honestidade muito rara no cinema americano hoje, principalmente no cinema dito
independente, que de modo geral
se encontra num estado ainda
mais pobre que o hollywoodiano.
Cada vez mais filmes corajosos
como esse são postos de lado pelas regras do próprio mercado.
Não por acaso, a distribuição de
"O Articulador" nos EUA está a
cargo da Miramax. Mas não se
trata de um típico filme Miramax,
diga-se de passagem.
O roteiro quase primoroso de
Jon Robin Baitz acompanha algumas horas da vida de Eli Wurman
(Al Pacino), um relações-públicas
da velha guarda nova-iorquina.
Durante o tempo em que a câmera acompanha Eli, despontam temas delicados como tráfico de influências, uso de drogas, chantagem e abuso de poder.
Mas o motivo da "censura branca" talvez seja uma visão extremamente crítica da Nova York pós-Giuliani, principalmente em relação à política repressiva aos imigrantes ilegais.
"O Articulador" lembra os filmes da melhor fase de Sidney Lumet. Certamente não tem o impacto de "Um Dia de Cão" nem a
precisão de "Serpico", para citar
dois filmes estrelados pelo mesmo Al Pacino. Mas tem a mesma
vontade de falar, com carinho, de
um personagem não-óbvio da
grande Nova York, sem se deter
apenas nesse personagem, buscando um painel mais amplo.
Pacino tem neste filme seu melhor trabalho nos últimos anos.
Ele dá nuanças mis à figura do relações-públicas homossexual, dilacerado pela corrupção inerente
ao seu trabalho e o idealismo que
ainda alimenta. Quando o filme
começa, Eli está organizando um
jantar de adesão à causa de dois
imigrantes africanos que estão
para ser deportados. Pretende,
ainda, selar a paz entre as comunidades negra e judaica da cidade,
que trocam acusações e alimentam ressentimentos mútuos.
Mas Eli tem seu trabalho interrompido pelo pedido (que ele não
pode negar) de um velho amigo, o
astro de cinema Cary Elner (uma
participação surpreendente de
Ryan O'Neal). Cary aparece de
madrugada, solicitando mais um
"trabalhinho" a Eli: ele deve pagar
a fiança de uma jovem atriz em
ascensão (interpretada por Tea
Leoni), presa por posse de drogas,
e acompanhá-la até um jatinho,
que vai levá-la de volta a Los Angeles. Mas ele acaba testemunhando o assassinato da atriz.
Nesse momento, o roteiro parece tomar um rumo perigoso (o de
um filme de suspense banal). Mas
logo retoma seu curso, concentrando-se novamente na figura de
Eli. Sem deixar de resolver o quesito policial, "O Articulador" não
se distancia de seus objetivos primeiros, que é contar a história da
figura fascinante do relações-públicas decadente.
O personagem de Eli Wurman
vive num mundo onde não há espaço para ele. Sua cunhada (outra
participação surpreendente, de
Kim Basinger) tenta convencê-lo
a se aposentar, mas, quando ele
aceita sua proposta, é tarde. Eli já
foi tragado pelo abismo. Uma figura comovente, enfim.
O Articulador
People I Know
Direção: Dan Algrant
Produção: EUA, 2001
Com: Al Pacino, Kim Basinger e Tea Leoni
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Belas Artes, Interlagos,
Internacional Guarulhos e circuito
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