São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/ESTRÉIA

BILHETERIA

Produtor do longa "A Paixão de Jacobina", dirigido por seu filho, deseja competir com "Cidade de Deus"

Clã Barreto quer filmes para a massa

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A família Barreto estréia um novo filme. Entre a produção e a direção, entre Luiz Carlos e seus filhos, há muito da história do cinema brasileiro, e também recordes de bilheteria. Com "A Paixão de Jacobina", de Fábio Barreto, o clã espera reencontrar o grande público e assim prosseguir na assumida vocação de obras imensamente populares.
""A Paixão de Jacobina" poderá alcançar algo entre 700 mil e 1 milhão ", disse à Folha Luiz Carlos Barreto, que aos 74 anos mantém um feito até o momento insuperado: 12 milhões de espectadores para um filme brasileiro. Isso aconteceu em 1978, com "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Bruno Barreto.
Os anos 90 foram menos generosos com a ambição de levar "a massa" para as salas de cinema. Houve "O Quatrilho" (1995), de Fábio, e seus 1.109.627 espectadores. Uma feliz marca, apesar de não ter se repetido durante a década.
"O Que É Isso, Companheiro" (1996), de Bruno Barreto, chegou aos 315.349; no ano seguinte, "Bela Donna", de Fábio, conseguiu 400 mil, enquanto "Bossa Nova" (1999), mais uma vez com Bruno, atingiu 670 mil pagantes.
Fábio Barreto saberia agora o que o público, após "Central do Brasil", de Walter Salles, ou "Cidade de Deus ", de Fernando Meirelles, quer ver nas telas?
"Tematicamente, a pluralidade", diz Fábio, 45, que também falou à Folha. "As pessoas querem boas e bem contadas histórias, que contenham de cinco a dez cenas fortes, impressionantes."
Mas há ainda alguns detalhes. Uma certa noção de respeito, diz Luiz Carlos: "Um filme tem que contar com qualidades comerciais e artísticas. É preciso que ele respeite a audiência e acrescente algo ao gosto da platéia".
É possível pensar em uma fórmula de sucesso? Fábio Barreto afirma não haver bola de cristal. Talvez, uma intuição. "Faço cinema para passar o conteúdo de certas coisas para o público, e quanto maior ele for, melhor", diz.
"Quero que meus filmes encham os cinemas e tenham filas", continua. "Não se pode desperdiçar a oportunidade de fazer cinema para o grande público. Só assim teremos uma indústria."
Luiz Carlos usa "Cidade de Deus" como um exemplo para reafirmar sua crença de ser o cinema o território da surpresa. ""Cidade de Deus" segue uma fórmula não-comercial. É um belíssimo filme, mas olhando o roteiro você poderia supor que um filme sobre violência não funcionaria."
Isso, claro, pode ser lido como um sinal. Ao menos para produtores de cinema. Luiz Carlos Barreto pensa estar o mercado nacional vivendo uma revitalização, uma retomada. Assim ele produz; e seus filhos, filmam.
"Acho que os brasileiros estão reconquistando o espaço perdido. A nossa participação no mercado, nos anos 70, chegou a 42%. Nos 90, fomos reduzidos a 0%", diz ele. Luiz Carlos fala sobre os próximos projetos da produtora; sempre, como afirma, com a perspectiva de um grande público. Para ele, será possível em algum instante igualar ou superar os números de "Dona Flor".
"Acredito nisso. Os "Titanics" e "Harry Potters" da vida fazem 7 milhões de espectadores. Estamos rodando "O Caminho das Nuvens", no Ceará; preparamos "Eros Agreste", que será tão violento quanto "Cidade de Deus"."


Texto Anterior: Cinema/Estréia - "O Articulador": Longa projeta honestidade rara no cinema americano
Próximo Texto: "A Paixão de Jacobina": Clichês e estética kitsch dominam drama novelesco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.