São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2000

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24ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

"PSICOPATA AMERICANO"
Veja no que dá ir a restaurante da moda e ouvir Phil Collins

Associated Press
O yuppie Patrick Bateman (Christian Bale), de dia um executivo, de noite um assassino, anda por NY em "Psicopata Americano"


LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você acha que comer em restaurantes da moda, usar roupas de grife e ouvir Phil Collins são coisas incapazes de deformar o caráter de um ser humano, espere para ver "Psicopata Americano", que, pelas mãos da Mostra chega hoje, afinal, a SP.
"Psicopata Americano" é "American Psycho" no original, transposição para as telas do best seller (1991) criado pelo romancista americano Bret Easton Ellis.
Muito por culpa do livro, Ellis ganhou o apelido de "biógrafo" da geração yuppie dos anos 80, o pessoal de bolso cheio e alma vazia que habitou a década passada, tendo como objetivo de vida a ascensão social, a febre consumista e o culto à futilidade.
Situando cinematograficamente, "Psicopata Americano" é uma versão hard de "Beleza Americana" e primo próximo de "Clube da Luta", para citar outros "documentários" sobre peças estragadas do "american way of life".
É violento, é chocante e é muito bom. Causou mal-estar na América desde sua première em Sundance e quase foi proibido na Inglaterra, que depois o liberou com o selo da censura de 18 anos.
O psicopata americano é Patrick Bateman (o ótimo Christian Bale), um executivo materialista de Wall Street que discute política e Dostoiévski, pensa nos discos que precisa comprar e nos restaurantes em que vai almoçar. Isso durante o dia. À noite, entre um uísque e uma carreira de cocaína, trama assassinatos elaborados e o mais hediondos possível.
O filme é dirigido por uma cineasta de segunda viagem, Mary Harron, que soube tirar das letras de Ellis, além do macabro retrato de época, toda a ironia que levava o escritor a descrever no mesmo tom as cenas de Bateman escolhendo um terno para vestir de manhã e as do yuppie usando uma furadeira automática para exterminar companheiras.
O filme talvez não escandalize tanto quanto o livro, que já fez esse serviço em 91, ao retratar uma geração de sem-almas que estava no comando social sem muito compromisso com a moral.
Mas, na mão de uma mulher, o filme não descambou para um mero thriller sobre um "serial killer" que mata por um desvio psicológico. Há uma ponta de estudo sobre os danos da compulsão masculina em um sujeito fraco de espírito que é apavorante.
Com um ótimo começo descritivo sobre o homem e seu meio em plena NY dos 80, "Psicopata Americano" melhora ainda mais do meio para frente, quando a paranóia de Bateman degringola.
Como o conceito dos 80 era a apologia do falso (as idéias são falsas, as atitudes são falsas e os amigos eram falsos), dá para desconfiar até do que se vê na tela. Como boa parte do filme é narrada pelo próprio Bateman, chega-se a desconfiar se os assassinatos não seriam delírios do personagem.
O "New York Times", em sua crítica na estréia, chegou a dizer que "Psicopata Americano" é um filme para ser visto com a atenção de quem observa os movimentos de uma serpente dentro de um pote de vidro. É isso.

Psicopata Americano
American Psycho
    
Direção: Mary Harron
Produção: Canadá/EUA, 2000
Com: Christian Bale e Willem Dafoe
Quando: hoje, às 17h35, no Vitrine; amanhã, às 23h30, no Unibanco; e 1º, às 17h15, no Cinearte 1



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