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24ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
"PSICOPATA AMERICANO"
Veja no que dá ir a restaurante da moda e ouvir Phil Collins
Associated Press
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O yuppie Patrick Bateman (Christian Bale), de dia um executivo, de noite um assassino, anda por NY em "Psicopata Americano" |
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você acha que comer em
restaurantes da moda, usar
roupas de grife e ouvir Phil Collins são coisas incapazes de deformar o caráter de um ser humano, espere para ver "Psicopata
Americano", que, pelas mãos da
Mostra chega hoje, afinal, a SP.
"Psicopata Americano" é
"American Psycho" no original,
transposição para as telas do best
seller (1991) criado pelo romancista americano Bret Easton Ellis.
Muito por culpa do livro, Ellis
ganhou o apelido de "biógrafo"
da geração yuppie dos anos 80, o
pessoal de bolso cheio e alma vazia que habitou a década passada,
tendo como objetivo de vida a ascensão social, a febre consumista
e o culto à futilidade.
Situando cinematograficamente, "Psicopata Americano" é uma
versão hard de "Beleza Americana" e primo próximo de "Clube
da Luta", para citar outros "documentários" sobre peças estragadas do "american way of life".
É violento, é chocante e é muito
bom. Causou mal-estar na América desde sua première em Sundance e quase foi proibido na Inglaterra, que depois o liberou com
o selo da censura de 18 anos.
O psicopata americano é Patrick Bateman (o ótimo Christian
Bale), um executivo materialista
de Wall Street que discute política
e Dostoiévski, pensa nos discos
que precisa comprar e nos restaurantes em que vai almoçar. Isso
durante o dia. À noite, entre um
uísque e uma carreira de cocaína,
trama assassinatos elaborados e o
mais hediondos possível.
O filme é dirigido por uma cineasta de segunda viagem, Mary
Harron, que soube tirar das letras
de Ellis, além do macabro retrato
de época, toda a ironia que levava
o escritor a descrever no mesmo
tom as cenas de Bateman escolhendo um terno para vestir de
manhã e as do yuppie usando
uma furadeira automática para
exterminar companheiras.
O filme talvez não escandalize
tanto quanto o livro, que já fez esse serviço em 91, ao retratar uma
geração de sem-almas que estava
no comando social sem muito
compromisso com a moral.
Mas, na mão de uma mulher, o
filme não descambou para um
mero thriller sobre um "serial killer" que mata por um desvio psicológico. Há uma ponta de estudo
sobre os danos da compulsão
masculina em um sujeito fraco de
espírito que é apavorante.
Com um ótimo começo descritivo sobre o homem e seu meio
em plena NY dos 80, "Psicopata
Americano" melhora ainda mais
do meio para frente, quando a paranóia de Bateman degringola.
Como o conceito dos 80 era a
apologia do falso (as idéias são falsas, as atitudes são falsas e os amigos eram falsos), dá para desconfiar até do que se vê na tela. Como
boa parte do filme é narrada pelo
próprio Bateman, chega-se a desconfiar se os assassinatos não seriam delírios do personagem.
O "New York Times", em sua
crítica na estréia, chegou a dizer
que "Psicopata Americano" é um
filme para ser visto com a atenção
de quem observa os movimentos
de uma serpente dentro de um
pote de vidro. É isso.
Psicopata Americano
American Psycho
Direção: Mary Harron
Produção: Canadá/EUA, 2000
Com: Christian Bale e Willem Dafoe
Quando: hoje, às 17h35, no Vitrine;
amanhã, às 23h30, no Unibanco; e 1º, às
17h15, no Cinearte 1
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