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FESTIVAL
Primeiro Prêmio Slow Food foi anunciado na terça-feira, em Bolonha
Itália premia tradição gastronômica
COLUNISTA DA FOLHA
Na era da alta tecnologia, poderia parecer um ritual medieval a
cerimônia do anúncio, na última
terça-feira, dos vencedores do 1º
Prêmio Slow Food, em Bolonha,
na Itália. Ela aconteceu na nave
central de uma magnífica igreja
de 500 anos (Santa Lucia) e viu
desfilarem personagens ligados a
atividades enraizadas no passado:
agricultores, pescadores, produtores artesanais de alimentos.
Slow Food é um movimento internacional criado em 1985, na
Itália, em defesa das tradições
gastronômicas. Seu prêmio foi
entregue a 13 personalidades ou
entidades que defendem as ditas
tradições; dentre eles, cinco receberam o prêmio especial, resultado da votação de 450 jurados de
vários países.
A apresentação do jornalista
Carlo Petrini, fundador e presidente do movimento, disse tudo.
"Enquanto a engenharia genética
quer criar novas raças, nós queremos defender o patrimônio já
existente", disse ele. "Nós homenageamos as classes camponesas,
os pescadores, os agricultores, os
pastores, depositários da biodiversidade; eles são benfeitores da
humanidade."
Foram esses benfeitores os homenageados. Eles compunham
os 13 finalistas, escolhidos depois
de uma indicação prévia dos jurados internacionais. Os cinco ganhadores do prêmio especial dão
uma idéia do perfil homenageado: Nancy Jones, da Mauritânia,
produz queijos com os pastores
nômades do país que ela adotou.
Raúl Antonio Manuel, líder da comunidade indígena de Rancho
Grande, nas montanhas do México, produz café e baunilha em sistema de cooperativa. Marija Mikhailovna Girenko, bióloga e pesquisadora russa de 70 anos, dedica-se à conservação de espécies e
de legumes tradicionais de seu
país. Jesus Garzón, da Espanha,
trabalha na preservação de espécies animais (comestíveis, inclusive) em extinção. Veli Gülas, da
Turquia, produz o conhecido mel
de Anzer e sua respectiva espécie
de abelha.
Entre os outros sete candidatos,
havia também pescadores, pesquisadores, botânicos. E, na tribuna de honra, personalidades de
peso, que mostram o apoio que,
na Europa, a causa angaria: ministros da Agricultura e do Turismo, dirigentes da Comunidade
Européia, intelectuais como o escritor espanhol Manuel Vásquez
Montalbán, autor do personagem
Pepe Carvalho, o detetive gourmet.
Seminário
Enquanto o Prêmio Slow Food
era anunciado, acontecia na Universidade de Bolonha um seminário de dois dias sobre gastronomia, com a participação de historiadores de renome ligados ao tema, como o italiano Massimo
Montanari e o francês Jean-Louis
Flandrin.
E, na quarta-feira, em outra cidade italiana, Turim, acontecia a
abertura do Salone del Gusto, um
salão gastronômico animado pelo
Slow Food, com exposição de
produtos ameaçados de extinção
e debates sobre o tema.
Na Itália, gastronomia é coisa
séria, e o assunto é inesgotável.
(JM)
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