São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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ANÁLISE

Hiperatividade contagia as novelas

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Maria do Carmo se atracou com Nazaré. "Senhora do Destino" anda repercutindo até em colunas de literatura. O maior sucesso atual segue os passos de suas antecessoras recentes no horário principal.
O que essas novelas têm que conseguiram reverter os indícios de esgotamento que pareciam indicar a decadência do gênero nos anos 90?
O barraco corre solto. Há uma tendência ao banal, ao popularesco. Os heróis e heroínas são personagens emergentes, espontâneas, sem frescura, adeptos do "pão, pão, queijo, queijo".
As referências à política, que um dia fizeram o sucesso do gênero, se mantêm, sem novidade, em um tom de déjà vu. Na novela, a campanha para prefeito é assunto marginal, de vilões também marginais, Reginaldo e Viviane, casal imoral e corrupto.
O sucesso tem a ver com o ritmo acelerado da trama principal. Quem perde muitos capítulos acaba dançando.
Há cerca de dez dias, Maria do Carmo encontrou sua filha. Acabou o assunto? Não. A vingança apenas começou.
Como nas tramas de Glória Perez e Manoel Carlos, na história de Aguinaldo Silva a receita se completa com uma boa dose de intervenção social.
A decidida mãe batalhadora demorou demais a localizar a bandida que aproveitou a suposta confusão do dia do AI-5 para levar o seu bebê. Somos informados de que o crime de seqüestro prescreve em 25 anos.
A vingança apenas começou. A protagonista decide fazer justiça com as próprias mãos. A trama principal sustenta uma teia múltipla de tramas secundárias, com direito a romance homossexual feminino, a provocação da hora.
Ficou difícil seguir história de novela com apenas uma bisbilhotada eventual. A agitação dos dias que correm contagiou a vida das personagens. O sucesso tem a ver com a sucessão alucinada de viradas na trama.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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