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Arnaldo Jabor exibe hoje sua versão definitiva de "Tudo Bem"
Diretor conta que cópia remasterizada está mais à altura do roteiro e elenco
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Arnaldo Jabor avisa: pode jogar fora sua cópia de "Tudo
Bem", longa que o diretor lançou em 1978. Nos últimos dois
meses Jabor trabalhou na remasterização do filme, que passa hoje à noite na Mostra Internacional de São Paulo, com a
presença do cineasta.
"O filme foi rodado em seis
semanas, há exatamente 30
anos, por isso a Mostra, que
também tem 30 anos, colocou
na programação. Foi o melhor
roteiro que escrevi, com o Leopoldo Serran. Mas eu não tinha
um tostão na época, e o resultado não ficou à altura do roteiro
e do elenco maravilhoso", conta Jabor.
"Sempre tive bronca do filme, apesar de ele ter sido bem
recebido pela crítica. Agora pude mexer no som, na imagem e
até na mise-en-scène, fazendo
novos enquadramentos. Pude
partir de planos gerais e aproximar, fazer travelings etc. Passei
30 anos puto da vida, mas agora
estou feliz."
Retrato do Brasil
Vencedor dos troféus Candango de melhor filme e melhor ator coadjuvante (Paulo
César Peréio) no Festival de
Brasília de 1978, "Tudo Bem"
acompanha as reviravoltas na
vida de uma família da classe
média carioca, que resolve reformar seu apartamento em
Copacabana e fica "cercada de
Brasil por todos os lados", como definiu o próprio Jabor.
No apartamento em reforma
convivem o casal (Fernanda
Montenegro e Paulo Gracindo), seus filhos (Regina Casé e
Luiz Fernando Guimarães), as
empregadas (Zezé Mota e Maria Sílvia), além dos pedreiros
vividos por Stênio Garcia e José
Dumont, entre outros.
O filme é considerado pela
crítica tributário tanto do cinema novo, por conta da crítica
social e política, quanto da obra
de Nelson Rodrigues, que Jabor já havia adaptado em dois
filmes, pela sátira moral.
""Tudo Bem" é quase uma paródia do que seria um filme político sobre o Brasil, numa mistura de realidade e alucinação.
Foi uma tentativa de fazer uma
síntese do país dentro de um
apartamento de Copacabana,
em que convivem uma família
de classe média, um mendigo,
operários, um rico etc."
Sobre o filme, Glauber Rocha
disse que "a Senzala invade a
Casa Grande sob os olhos agitados da Varanda" e que se tratava de um filme "revolucionário
na sua crueldade e justiça". Cacá Diegues escreveu que desde
"Terra em Transe" não via "no
cinema brasileiro um resumo
tão completo do que somos.
Quem sabe até de para onde vamos". Jabor parece concordar
com Diegues: "Há várias coisas
que prefiguram o nacionalismo
de hoje em dia, como o personagem do Gracindo, cheio de
ideais; ou a globalização, através do americano vivido por
Peréio, que vai vender satélites
no Brasil. E a loucura da classe
média diante de país que não
entende, que se conflagra com
chegada dos miseráveis à casa."
Relançamento
A nova cópia de "Tudo Bem"
vai ser lançada em DVD em novembro, pela Versátil, numa
caixa com os outros oito longas
de Jabor, inclusive "Amor à
Primeira Vista", que ele rodou
na Europa, e que nunca foi exibido comercialmente no Brasil.
Jabor avalia também relançar
"Tudo Bem" no cinema.
TUDO BEM
Direção: Arnaldo Jabor
Onde: hoje, às 21h10, no Cine Bombril 1
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