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Crítica/"Khadak"
Drama místico traz beleza ameaçada da Mongólia
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Se há um cinema de ficção
que pode ser qualificado
de etnográfico, "Khadak", da dupla Peter Brosens e
Jessica Woodworth, faz parte
do gênero.
Ambientado nas estepes da
Mongólia, entre nômades criadores de ovelhas, o filme se
concentra no drama do atormentado jovem Bagi (Batzui
Khayankhyarvaa), que, segundo a tradição. está destinado a
se tornar xamã. Para a medicina, contudo, sofre de epilepsia.
O conflito entre a cultura ancestral e a sociedade moderna
globalizada está também no pano de fundo: sob o pretexto de
que uma praga contaminou
seus rebanhos, as famílias nômades têm seus animais confiscados e são removidas para
um vilarejo onde funciona uma
devastadora mina de carvão.
Há uma analogia evidente: do
mesmo modo que as tradições
culturais são conspurcadas pela mentalidade capitalista urbana, a magnífica paisagem da
Mongólia é agredida por horrendas minas, escavadeiras,
guindastes e chaminés.
Em meio à ameaça apocalíptica, emerge uma espécie de revolução de jovens, comandada
por Bagi e por uma bela ladra de
carvão (Tsetsegee Byamba),
que lembra a Paulette Godard
de "Tempos Modernos".
Um tanto simplista, talvez,
no modo de encarar os dilemas
de um país à margem da história, "Khadak" brinda entretanto o espectador com a construção de um mundo estranho e
altamente pictórico, com o predomínio das grandes extensões
desertas, pontuadas por um ou
outro objeto solitário. Alguns
planos -como o dos móveis da
família removida perdidos na
imensidão- lembram a pintura metafísica de um De Chirico.
Outro acerto, do ponto de
vista cinematográfico, é o de
entrelaçar a ação narrada com
o plano dos delírios, sonhos e
visões, sem distinguir uma esfera da outra a não ser pelo
som. Em decorrência disso, o
impacto do insólito universo
criado vai muito além da "mensagem" política e ecológica do
longa-metragem.
Vale lembrar que o belga Peter Brosens, um dos diretores
de "Khadak", ganhou em 1998 o
Prêmio da Crítica da 22ª Mostra de São Paulo, por seu "O Estado do Cão".
KHADAK
Direção: Peter Brosens e Jessica
Woodworth
Onde: hoje, às 19h10, no Reserva Cultural 2, e qua., às 17h40, na Sala UOL
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