São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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Tragicomédia aborda visita do papa

Candidato do Uruguai a uma das cinco vagas de filme estrangeiro no Oscar, "O Banheiro do Papa" tem última exibição na Mostra hoje

Longa uruguaio mais visto em seu país marca estréia na direção de César Charlone, fotógrafo oficial dos filmes de Fernando Meirelles

CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem motivos para torcer para outro filme além de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburguer, na corrida pelo Oscar de filme em língua estrangeira.
Concorrente uruguaio a uma das cinco indicações ao prêmio, "O Banheiro do Papa" é a estréia em direção de longa-metragem de César Charlone, 49 -nascido em Montevidéu, radicado em SP desde os anos 70 e fotógrafo oficial de Fernando Meirelles ("Cidade de Deus" e "Blindness - Cegueira").
Charlone diz à Folha que não esperava o sucesso que o filme tem feito -levou seis Kikitos em Gramado, participou de festivais internacionais e, segundo o diretor, bateu recorde de bilheteria de filme nacional no Uruguai. ""Whisky" [de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll] era o primeiro, já passamos", orgulha-se.
Ainda sem estréia definida por aqui, o filme tem sua terceira e última exibição hoje na Mostra, às 14h, no iG Cine.
Charlone compara a trajetória do protagonista, Beto, à do filme, co-dirigido e co-roteirizado por Enrique Fernández, nascido em Melo, cidade do personagem. "Ele não espera, mas torce. É sobre isso. Sonhar e lutar contra a loucura."
Beto (César Troncoso) é "um cara humilde, que se vira, como todos os da periferia". Ele espera lucrar com a visita do papa à cidade uruguaia, em 1988, construindo um banheiro para os fiéis. "Acho que acabou ficando uma tragicomédia, uma coisa meio cinema italiano dos anos 70, que é engraçado, mas no fundo você diz: "Meu, que tragédia!". Ele tem humor, ironia, mas é meio barra-pesada".
Charlone diz achar difícil conquistar a indicação ao Oscar, embora não descarte o prêmio. "Esperança tem que ter! Se o Beto tem, de que venham 2.000 pessoas pra Melo e ele consiga ficar rico com o banheiro dele, a gente tem esperança de que 4.000 acadêmicos vejam o filme e gostem!"
Para ele, a falta de dinheiro para investir em campanha nos EUA pode dificultar a indicação de "Banheiro do Papa". "Quando a gente estava filmando "Cegueira", mostrei pra Julianne Moore, pro Mark Ruffalo, pro Danny Glover, eles adoraram, e você percebia que era honesto. Então imagino que, se lançar lá, vai ser legal, mas a gente não tem grana."

Pós-"Cidade"
Desde que despontou com "Cidade de Deus", Charlone fez dois trabalhos internacionais, com os diretores Tony Scott ("Man on Fire") e Spike Lee ("Sucker Free City", longa-piloto para TV). Conta que recebeu -e recusou- outros quatro convites de Lee, além de ofertas de Stephen Frears e Anthony Minghella.
Pai de quatro filhos, diz que a família o motiva a não aceitar trabalhos para passar mais tempo em SP. Da última ida à Inglaterra, para o London Film Festival, nesta semana, voltou com uma proposta "lindíssima" de Darren Aronofsky ("Réquiem para um Sonho"). "Mas não posso voltar, ouvir minha filha dizer: "Pai, tenho tanta coisa pra te contar", e ir embora. Está nas mãos dela [a decisão]."


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