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Tragicomédia aborda visita do papa
Candidato do Uruguai a uma das cinco vagas de filme estrangeiro no Oscar, "O Banheiro do Papa" tem última exibição na Mostra hoje
Longa uruguaio mais visto em seu país marca estréia na direção de César Charlone, fotógrafo oficial dos filmes de Fernando Meirelles
CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil tem motivos para
torcer para outro filme além de
"O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburguer, na corrida pelo Oscar
de filme em língua estrangeira.
Concorrente uruguaio a uma
das cinco indicações ao prêmio,
"O Banheiro do Papa" é a estréia em direção de longa-metragem de César Charlone, 49
-nascido em Montevidéu, radicado em SP desde os anos 70
e fotógrafo oficial de Fernando
Meirelles ("Cidade de Deus" e
"Blindness - Cegueira").
Charlone diz à Folha que
não esperava o sucesso que o
filme tem feito -levou seis Kikitos em Gramado, participou
de festivais internacionais e,
segundo o diretor, bateu recorde de bilheteria de filme nacional no Uruguai. ""Whisky" [de
Juan Pablo Rebella e Pablo
Stoll] era o primeiro, já passamos", orgulha-se.
Ainda sem estréia definida
por aqui, o filme tem sua terceira e última exibição hoje na
Mostra, às 14h, no iG Cine.
Charlone compara a trajetória do protagonista, Beto, à do
filme, co-dirigido e co-roteirizado por Enrique Fernández,
nascido em Melo, cidade do
personagem. "Ele não espera,
mas torce. É sobre isso. Sonhar
e lutar contra a loucura."
Beto (César Troncoso) é "um
cara humilde, que se vira, como
todos os da periferia". Ele espera lucrar com a visita do papa à
cidade uruguaia, em 1988,
construindo um banheiro para
os fiéis. "Acho que acabou ficando uma tragicomédia, uma
coisa meio cinema italiano dos
anos 70, que é engraçado, mas
no fundo você diz: "Meu, que
tragédia!". Ele tem humor, ironia, mas é meio barra-pesada".
Charlone diz achar difícil
conquistar a indicação ao Oscar, embora não descarte o prêmio. "Esperança tem que ter!
Se o Beto tem, de que venham
2.000 pessoas pra Melo e ele
consiga ficar rico com o banheiro dele, a gente tem esperança de que 4.000 acadêmicos
vejam o filme e gostem!"
Para ele, a falta de dinheiro
para investir em campanha nos
EUA pode dificultar a indicação de "Banheiro do Papa".
"Quando a gente estava filmando "Cegueira", mostrei pra Julianne Moore, pro Mark Ruffalo, pro Danny Glover, eles adoraram, e você percebia que era
honesto. Então imagino que, se
lançar lá, vai ser legal, mas a
gente não tem grana."
Pós-"Cidade"
Desde que despontou com
"Cidade de Deus", Charlone fez
dois trabalhos internacionais,
com os diretores Tony Scott
("Man on Fire") e Spike Lee
("Sucker Free City", longa-piloto para TV). Conta que recebeu -e recusou- outros quatro convites de Lee, além de ofertas de Stephen Frears e Anthony Minghella.
Pai de quatro filhos, diz que a
família o motiva a não aceitar
trabalhos para passar mais
tempo em SP. Da última ida à
Inglaterra, para o London Film
Festival, nesta semana, voltou
com uma proposta "lindíssima" de Darren Aronofsky ("Réquiem para um Sonho"). "Mas
não posso voltar, ouvir minha
filha dizer: "Pai, tenho tanta
coisa pra te contar", e ir embora.
Está nas mãos dela [a decisão]."
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