São Paulo, sexta, 27 de novembro de 1998

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CINEMA - ESTRÉIAS
"Lenda Urbana" tinge tela com sangue fajuto

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

O cinema de horror vem ensaiando uma virada desde os bacanas "Pânico", "Pânico 2" e, mais recentemente, "Vampires", de John Carpenter, que descolou um honroso primeiro lugar há poucas semanas nas bilheterias americanas, na temporada de outono.
Mas, no meio do caminho da ressurreição do bom e velho cinema tenebroso, há espécimes xaropes como "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado" (mais sua nefasta sequência "Eu Ainda Sei...") e este "Lenda Urbana" ("Urban Legend"), que a partir de hoje tinge nossas telas com sangue fajuto.
O verdadeiro terror a que estamos sendo submetidos, diga-se, é o atraso abissal do lançamento de "Pânico 2" no Brasil, agendado para dezembro, se tudo der certo. Ou ainda a falta de notícias da vinda às nossas telas da última diabrura de John Carpenter.
Quanto a "Lenda Urbana", o filme é exemplo (no mau sentido) da inconsequência teen, a começar pelo jovem diretor, Jamie Blanks, que cheira a tal. Blanks tinha 24 anos quando rodou o filme, sua estréia na direção. Para completar, "Lenda Urbana" agrega em seu elenco uma penca de jovem atores egressos de seriados de TV, a destacar aí o bom Joshua Jackson, da descolada série "Dawson"s Creek".
Nem a presença de Robert Englund, o velho Freddy Krueger da série de filmes "A Hora do Pesadelo", no papel de um professor universitário, tira "Lenda Urbana" das trevas da inspiração.
Sem nenhum estofo cinematográfico (saudade de Sam Raimi e Clive Barker...), "Lenda Urbana" procura se sustentar em cerca de 16 cenas de sangria desatada, 15 cenas horripilantes de segunda categoria e dez de sustos previsíveis.
O levantamento acima poderia ser usado para descrever um bom filme de horror, mas, no caso de "Lenda Urbana", esses números padecem de alinhavo decente.
A história é bem boa, no entanto. Uma garota tenta, sem sucesso, fazer alguém acreditar que os alunos que estão desaparecendo em um campus de uma universidade (onde mais?) na verdade estão sendo vítimas de um assassino. Melhor: o tal serial killer estaria seguindo rituais de lenda urbana, aqueles casos populares misteriosos que surgem não-se-sabe-de-onde e se espalham de várias formas.
Se alguém copiasse a idéia no Brasil e botasse em filme, decerto não faltaria a famosa loira linda com algodão no nariz e no ouvido que surgia nos banheiros masculinos das escolas nos anos 70/80.
Ou a tal lenda do sujeito que morreu afogado em um tanque da Coca-Cola e pedaços dele eram encontrados em garrafas.
Talvez por isso, "Lenda Urbana" faça mais sentido (se é que faz algum) para os que conhecem lendas urbanas americanas e tolerem um filme de terror que se sustenta na estética do susto pelo susto.
²
Filme: Lenda Urbana Produção: EUA, 1998
Direção: Jamie Blanks
Com: Alicia Witt, Jared Leto, Rebecca Gayheart e Joshua Jackson
Quando: a partir de hoje nos cines Lar Center 2, Paulista 2 e circuito




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