São Paulo, sexta, 27 de novembro de 1998

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ACONTECE NO RIO
Em "Uma Noite na Lua', que estréia hoje, o ator interpreta um escritor com conflitos existenciais
Nanini encara solo a platéia pela 1ª vez

GUSTAVO AUTRAN
da Sucursal do Rio

"Uma Noite na Lua", primeiro monólogo interpretado por Marco Nanini, é um caso típico de invasão de privacidade. O espetáculo, que estréia hoje no teatro dos Quatro, no Rio, expõe o drama de um escritor anônimo, obrigado a resolver muitos de seus conflitos existenciais de uma só vez.
Vigiado pela platéia, o dramaturgo se compromete a escrever uma peça em apenas uma madrugada. No entanto, o personagem, consumido pelo sofrimento, abandona o trabalho para mergulhar na própria intimidade.
"Um olhar perdido para um objeto denuncia o momento de o protagonista passar sua vida a limpo. Ele acaba de ser abandonado pela mulher e experimenta o vazio de se tornar um pensador que não consegue realizar seus projetos", explica Nanini.
Os devaneios do personagem selam justamente o encontro da fantasia com a realidade.
Eles reproduzem o enredo da peça encomendada para o escritor, que fala sobre um homem pensando em cima do palco.
No que diz respeito ao tempo de produção, porém, a fantasia foi muito mais dura que a realidade. Em vez de uma madrugada, Nanini passou dois meses ensaiando o texto de João Falcão na Pequena Cruzada, na Lagoa.
O público é uma espécie de voyeur desse processo de autoconhecimento, de acordo com João Falcão, também diretor da peça.
"É como se a platéia ocupasse o cérebro do personagem, que não pára de pensar sobre seu futuro."
O monólogo significou um desafio muito maior para o diretor do que para o ator.
De acordo com Falcão, que também dirige a atriz Marieta Severo na peça "A Dona da História", é muito difícil concentrar todas as emoções das cenas em um só ator.
A equipe encontrou soluções pouco convencionais para ambientar o espetáculo.
"Tentamos recriar os fluxos do pensamento do personagem. Por isso, o cenário é abstrato, um vácuo que pode representar até um pedaço do cérebro", considera Nanini.
Além da neutralidade cênica, o personagem não tem nem sequer um nome. Tudo para dar um tom universal à trama.
"Ele não precisa de um nome, à medida que não é chamado por ninguém em cena. Nem mesmo pela mulher, que, apesar de não estar fisicamente no palco, não sai de cena", diz Nanini.
Nanini e Falcão já tinham trabalhado juntos em três episódios do programa "Comédia da Vida Privada", da Rede Globo: "Menino ou Menina", "Parece que Foi Ontem" e "A Grande Noite".
A dobradinha foi levada para os palcos com a estréia, há dois anos, da peça "O Burguês Ridículo".
"Um bocado de gente já tinha se alistado para trabalhar com o Falcão. Tratei de pegar uma senha com antecedência. Mais cedo ou mais tarde, esse encontro tinha que acontecer", disse Nanini.
Nanini está participando das gravações do filme "O Xangô de Baker Street", de Miguel Faria Júnior, baseado no livro de Jô Soares, e da nova microssérie da Rede Globo, "O Auto da Compadecida", obra de Ariano Suassuna adaptada para a televisão pelo próprio João Falcão.
Além disso, o ator negocia participação da próxima novela das sete da Globo, escrita por Euclides Marinho.
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Peça: Uma Noite na Lua Quando: de quinta a sábado, às 21h; e domingo, às 20h
Onde: teatro dos Quatro (shopping da Gávea, r. Marquês de São Vicente, 52, Gávea, tel. 021/274-9895)
Quanto: R$ 20 (5ª), R$ 25 (6ª e domingo), R$ 30 (sábado)




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