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Ator é tão distraído quanto personagem da peça
da Sucursal do Rio
O ator Marco Nanini vive no
mundo da Lua, assim como seu
personagem no monólogo dirigido por João Falcão. "Cheguei ao
cúmulo de ser assaltado sem perceber", conta o distraído confesso.
Na peça, Nanini interpreta um
escritor metido numa desilusão
amorosa que se compromete a escrever uma peça em apenas uma
madrugada. Nesse meio tempo, ele
faz uma reflexão sobre a vida. "O
cérebro é um parque de diversões", conclui.
(GA)
Folha - Seu personagem em
"Uma Noite na Lua" se esforça para
escrever uma peça em apenas uma
noite, mas tem dificuldades para
se concentrar. Você também vive
no mundo da Lua?
Marco Nanini - Sou muito distraído. Não registro datas de aniversário ou números de telefone. Cheguei ao cúmulo de ser assaltado
sem perceber. Uns garotos renderam um amigo meu quando estávamos estacionando o carro em
uma movimentada rua da zona sul
do Rio. Saltei do automóvel e agradeci, pensando que os moleques tinham nos ajudado a manobrar.
Folha - Não é esquisito que um
autor teatral, obrigado a tirar da
cabeça uma infinidade de histórias, seja traído justamente por seu
pensamento?
Nanini - Esse dilema é o tema
central do espetáculo, que conta a
história de um homem cheio de
projetos, mas que é incapaz de
concretizar os próprios desejos.
Folha - Por quê?
Nanini - O fator emocional interfere em todo momento no seu potencial criativo. O casamento entrou numa baita crise, e sua esposa,
Berenice, acaba tirando o time de
campo. Ele não consegue resolver
a situação e, o pior, não tira qualquer proveito dela. Ao contrário,
quanto mais ele tenta dar um jeito
na vida, mais se complica.
Folha - O que aflige tanto o personagem?
Nanini - Apesar do descontrole
emocional, o sofrimento do personagem segue uma lógica bem racional. E o raciocínio pode nos levar ao sucesso ou ao fracasso. O cérebro é um parque de diversões,
com todos aqueles brinquedos perigosos de experimentar.
Folha - O espetáculo trata da
busca de objetivos inatingíveis?
Nanini - Em termos. Eu, por
exemplo, gosto de sonhar sem
compromisso. Os sonhos se sustentam justamente por causa de
suas impossibilidades de realização. Aliás, os melhores desejos são
aqueles que nos causam imensa
expectativa e a certeza de nunca serem concretizados...
Folha - Apesar disso, um desses
"sonhos" tem que ser realizado no
decorrer de uma madrugada. O
protagonista consegue cumprir a
sua promessa?
Nanini - Mas esse é o final do espetáculo (risos). Na verdade, o fato
de o personagem ter que escrever a
peça em apenas uma madrugada
acaba servindo para trazê-lo de
volta à realidade. O final fica a gosto do freguês, mas na cabeça do
personagem termina tudo em paz.
Ele sobrevive ao desafio de saldar
todas as suas dívidas com a própria existência.
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