São Paulo, sexta, 27 de novembro de 1998

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ÓPERA
Espetáculo de Puccini é apresentado hoje no Teatro Municipal com ambientação contemporânea e atores jovens
"La Bohème" ganha versão atualizada


JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

O Teatro Municipal de São Paulo apresenta hoje a primeira das seis récitas da mesma montagem de "La Bohème" que estreou, no final de agosto, no teatro Alfa Real.
Á ópera, para muitos a mais bem escrita de Giacomo Puccini (1858-1924), é a mais frequentemente interpretada entre os sete grandes sucessos líricos que ele compôs. A história se passa entre estudantes, boêmios e cortesãs, no Quartier Latin de Paris.
Há dois pormenores de peso na concepção do espetáculo, com direção musical de Jamil Maluf e direção cênica de Jorge Takla.
O primeiro: a ação se passa nos dias de hoje, e não mais por volta de 1830, segundo concepção mais tradicional. Os cantores usam roupas modernas de lã ou couro, as mulheres, em vestidos curtos, exibem bons palmos de pernas, e o próprio elenco, bastante jovem, encaixa-se com perfeição na idade atribuída aos personagens.
O segundo pormenor: a música é tratada de forma a destacar o lirismo na relação entre Mimi e Rodolfo, com ênfase nas frases lentas das cordas, e menor dimensão épica dos acordes dos metais.
É o que Jamil Maluf designou como "intimismo" e que se mostrou como o lado mais fascinante nas récitas do Alfa Real. As vozes se adaptam com facilidade a esse jogo dramático, que valoriza a palavra articulada na melodia e não mais a emissão de vogais demoradas, na reverberação de decibéis.
Mimi é representada pela soprano Rosana Lamosa, neste que será um de seus bons papéis em SP.
Seu parceiro, como o poeta Rodolfo, é o tenor Fernando Portari, uma das vozes que têm surpreendido pelo rápido aperfeiçoamento técnico e por um timbre definitivamente superior.
O baixo Jeller Felipe, no papel de Colline, e barítono Douglas Hahn, como Schaunard, foram muitíssimo bem nas récitas entre agosto e setembro do Alfa Real.
"La Bohème" é uma história de amor de final infeliz, com libreto de Luigi Illica e Giuseppe Giacosa, que se basearam em texto de Henry Murger. Ela foi encenada pela primeira vez em 1896.
Puccini estreara três anos antes sua "Manon Lescaut" e quatro anos depois viria com "Tosca", o que lhe permitiu se instalar definitivamente nessa espécie de trono simbólico que os italianos reservavam ao "sucessor de Verdi", o grande compositor lírico nacional.
Quanto à produção, a Secretaria Municipal da Cultura terá em mãos um dos espetáculos líricos de custo menor em sua história recente. Será algo em torno de R$ 200 mil, gastos com orquestra, coral e cachê dos cantores. Os cenários e figurinos foram gratuitamente emprestados pelo Alfa Real, que gastou o dobro dessa quantia para estrear o espetáculo há três meses.



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