São Paulo, Segunda-feira, 27 de Dezembro de 1999


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VÍDEO/LANÇAMENTOS

Peronismo

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Uma consulta rápida a uma boa livraria na Internet vai listar uma dúzia de livros sobre Evita Perón. Qualquer um deles vai dar ao interessado uma visão melhor do mito da história argentina do que "Evita", o musical de Alan Parker.
Analisar o filme é tarefa que pode gerar calorosos debates, mas todos deverão concordar que "Evita" tem tudo, menos história. Jogando os conturbados anos da trajetória política argentina como esmaecido pano de fundo para as canções, Parker manteve fidelidade ao musical de teatro criado por Tim Rice e Andrew Lloyd Webber nos anos 70, mas perdeu uma boa oportunidade de levar um pouco mais de cultura geral ao frequentadores de cinemas de shopping.
A vida de Evita retratada no filme é a de uma garota pobre que vai a Buenos Aires tentar ser atriz de cinema, sofre um pouco, encontra Juan Domingo Perón, torna-se primeira-dama, deseja uma Argentina com justiça social e, morrendo jovem, aos 33 anos, passa a ser uma figura mítica para a classe proletária do país.
Agora, um aviso: quem não souber pelo menos esse resumo pode ter muita dificuldade para acompanhar o filme, que não demonstra nenhum esforço de didatismo. A inclusão da figura de Che Guevara como narrador onipresente da história aumenta consideravelmente as chances de "tilt" na cabeça do espectador.
Por essas e outras, o filme despertou a ira de boa parte do público argentino, que não suportou a apropriação de seu maior mito, e, para piorar, com tão pouco rigor factual. Os defensores do diretor Alan Parker podem dizer que ele não queria ensinar história, só fazer um musical. Então, que pelo menos ousasse um pouco mais.
Madonna brigou com Deus e o mundo para ter o papel, que chegou a estar nas mãos de Meryl Streep e de Michelle Pfeiffer. O fato de Madonna ser uma cantora, ao contrário das preteridas, poderia ser um ponto positivo, mas a verdade é que a diva pop canta muito pior do que Patti LuPone, que estrelou o musical na Broadway, em 1979, e do que Julie Covington, que gravou "Don't Cry for Me Argentina" em 1976.
O ótimo ator britânico Jonathan Pryce (de "Brazil - O Filme") acerta na composição de seu Perón, e Antonio Banderas depende muito de seu inegável carisma para não passar ridículo como Che Guevara. Em resumo, os desempenhos são irregulares. Madonna canta muito e é péssima atuando. Pryce confirma a tarimba dramática, mas não canta nada. E Banderas acaba tendo a melhor média, seguro na interpretação e cantando inesperadamente bem.
Com boas canções e uma direção de arte caprichada, "Evita" é um entretenimento razoável para fãs de musicais. E nada mais.


Avaliação:  


DVD: Evita Produção: EUA, 1996 Tela: widescreen e normal Extras: menu interativo, índice de cenas Legendas: português e inglês Distribuidora: Buena Vista



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