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Globo e escolas mantêm velha ordem
da Reportagem Local
Precedentes à parte, a velha ordem ainda anda à toda no meio
musical brasileiro. Um exemplo é
outra ação judicial em tramitação,
movida pela Acesbra (Associação
de Compositores de Escolas de
Samba do Brasil) contra a gravadora BMG, o Ecad (Escritório
Central de Arrecadação de Direitos), a Riotur e a Liga das Escolas
de Samba do Rio de Janeiro.
O mesmo advogado do caso
Raul Seixas, Nehemias Gueiros
Jr., representa 88 compositores de
sambas vencedores do Carnaval
carioca. Ele explica:
"Sambistas pobres, eles são
obrigados por quantias irrisórias,
de cerca de R$ 1.000, a ceder todos
os direitos de seus sambas, sob
ameaças até de serem retirados da
disputa já em outubro, na quadra
das escolas".
Segundo o advogado, os compositores têm de abrir mão integralmente dos direitos autorais
por suas obras, o que é ilegal. "Pedimos a rescisão de todos os contratos de cessão de direitos autorais. Eles são inalienáveis, não podem ser negociados."
Festival da Globo
O "Festival de Música Brasileira", que a Rede Globo volta a promover neste ano, também se fundamenta em modelo contratual
feroz para os artistas. A cláusula
21 do termo de compromisso que
o inscrito é obrigado a assinar diz:
"As músicas inscritas no festival
permanecerão como sendo de
propriedade dos seus autores,
comprometendo-se, porém, os
candidatos, a conferirem à Rede
Globo de Televisão, a partir do
momento da inscrição, toda e
qualquer exclusividade no que se
refere a divulgação, execução pública e/ou gravação das mesmas
até 60 dias após o encerramento
do festival".
Ou seja, a música é de propriedade do autor, mas só a Globo
tem o direito de veiculá-la e gravá-la no período em que a canção
tem mais chances de sucesso
-durante e até dois meses após o
festival. É o preço do (prometido)
sucesso.
Outro engessamento se aninha
na cláusula 19: "A Rede Globo de
Televisão poderá escolher livremente, a seu exclusivo critério,
o(s) intérprete(s) e/ou arranjador(es) para as músicas que serão
executadas ao longo do festival e
nele sincronizadas".
Ou seja, o autor é dono da música, mas não pode decidir quem
vai interpretá-las ou arranjá-las
-o autor se revela, a Globo revela
o resto. A Folha procurou a Globo
para comentar o festival, sem sucesso, nas duas últimas semanas.
(PAS)
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