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RELÂMPAGOS
Unhas
JOÃO GILBERTO NOLL
A manicure pega a mão do
cliente. Contempla-a um
pouco com vaga compaixão.
Ele fica entregue, com a
atenção na mão banhada
por esse primeiro olhar da
moça -nessas alturas, pura
lembrança. Mão já embalsamada na mente, quando, no
fim, a limpeza das unhas é
tão certeira que se torna
quase suposição, qualidade
abstrata. Ele então volta para
o apartamento novo. Procura a mulher. Encontra a filha
sobre seus deveres. Tranca-se no banheiro. Olha as
unhas. E chora. Bem baixinho, para que o descontrole
não vaze na tarde que se derrama, lenta, pela última noite do verão...
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