São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2000


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500 ANOS

Reabre hoje, no Ibirapuera, o pavilhão Lucas Nogueira Garcez, projeto de Niemeyer inaugurado em 54

SP ganha "oca mais bonita do mundo"


da Reportagem Local


Reabre hoje, para convidados, o Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, no parque Ibirapuera, em São Paulo. E o que seria o Pavilhão Lucas Nogueira Garcez? "É um dos museus mais bonitos do mundo." As palavras são de Paulo Mendes da Rocha.
Um dos principais arquitetos brasileiros, foi ele o responsável pela supervisão da reforma no prédio em formato de cúpula projetado por Oscar Niemeyer, que foi inaugurado em 1954, ano do quarto centenário de São Paulo.
"Nós simplesmente estamos deixando o museu do modo como Niemeyer o desenhou", diz Mendes da Rocha. O "nós" em questão é a Associação Brasil 500 Anos, instituição que organiza a maior exposição de arte brasileira já realizada por aqui, a Mostra do Redescobrimento, com cerca de 7.000 obras, com inauguração marcada para 22 de abril.
A partir desse dia, a "Oca", como o Pavilhão Lucas Nogueira Garcez foi apelidado, graças ao seu formato arredondado, estará aberta ao público pela primeira vez em 14 anos. Foi esse o tempo em que o Museu da Aeronáutica e do Folclore ficou fechado.
Em sua nova fase, a Oca será refrigerada. "É o maior espaço totalmente climatizado abaixo da linha do Equador", diz Edemar Cid Ferreira, presidente da Associação Brasil 500 Anos, timoneiro da Mostra do Redescobrimento.
"Todos os 10 mil metros quadrados de área do prédio estão totalmente climatizados, o que faz o prédio apto para receber qualquer exposição do mundo", explica Cid Ferreira.
A reforma da Oca consumiu R$ 10 milhões, o equivalente a cerca de um quarto de todo o orçamento da Mostra do Redescobrimento, que também usará os prédios da Bienal e do pavilhão Manoel da Nóbrega (que vinha recebendo filial da Pinacoteca do Estado).
O sistema de climatização usado no museu é inédito no país. Seu coração é o maquinário que funciona como uma espécie de fábrica de água gelada, que é depositada em um buraco de 20 metros de largura (10 metros de profundidade) fora do prédio. O ar que sai dessa "piscina glacial" é levado por dutos para todo o interior da "Oca" .
Essa não foi a única modificação no prédio de Niemeyer. No lugar em que ficam as escadas rolantes, a associação instalou um elevador hidráulico. Também foi feita a recuperação de um auditório com capacidade para cerca de cem pessoas, que funciona no subsolo da "Oca".
Mas a grande mudança mesmo será visível. A "despoluição visual" do interior do prédio talvez seja o seu grande trunfo. "O museu estava como não deveria . Cheio de paredinhas improvisadas, puxadinhos", fala com indignação Mendes da Rocha.
Ele se refere às divisórias que foram construídas nos tempos do Museu da Aeronáutica e do Folclore. As duas coleções, por sinal, têm, por contrato, direito de retomarem o prédio depois dos três anos em que o museu foi cedido à Associação Brasil 500 Anos.
Durante esse tempo, a coleção aeronáutica administrada pela Fundação Santos Dumont, que tem como um dos destaques a guarda do lendário avião Jahú, foi transferida para o Cemucan, o parque Centro Municipal de Campismo, no km 21 da rodovia Raposo Tavares.
As cerca de 10 mil peças do acervo do Museu do Folclore, por sua vez, estão temporariamente alocadas na Casa Sertanista, uma das poucas construções do século 18 que ainda pode ser vista em São Paulo.
Ao longo dos três anos em que terá a guarda do Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, a Associação Brasil 500 Anos pretende trazer a elite das artes plásticas mundiais para dentro da "Oca".
"Queremos fazer parte do circuito de Fórmula 1 das grandes exposições", brinca Edemar Cid Ferreira. Para tanto, ele conta com os acordos que já foram feitos com museus de todo o mundo para a exposição no exterior da Mostra do Redescobrimento.
Já estão acertadas parcerias com grandes instituições como o Beaubourg, em Paris, o British Museum, em Londres, e o Guggenheim de Nova York. Esse último, aliás, o famoso prédio espiralado de Frank Lloyd Wright, perderia no quesito beleza para a "Oca", de acordo com Mendes da Rocha.
Passeando no prédio, ainda durante a finalização das obras, capacete na cabeça, o arquiteto elogia a espacialidade do museu. "Demos a volta no prédio e ele parecia um ovinho. Ele se desdobra espacialmente de uma forma tão imprevisível e bonita. É uma maravilha suprema", diz com olhos brilhando.
A "suprema maravilha" de Niemeyer vai abrigar dois dos 12 módulos da Mostra do Redescobrimento: Arqueologia, com curadoria de Maria Cristina Mineiro Scatamacchia e Eduardo Goes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, e Artes Indígenas, curada por Lúcia Hussak van Velthem (do museu Emílio Goeldi, no Pará) e José António Braga Fernandes Dias (da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa).
(CASSIANO ELEK MACHADO)


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