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VÍDEO LANÇAMENTOS
Almodóvar desavergonhado chega ao vídeo
CYNARA MENEZES
especial para a Folha
Diálogo "romântico" imaginado por Pedro Almodóvar para
uma cena de elevador em "Labirinto das Paixões".
Ele: "Você já não tem os lábios
ressecados". Ela: "Nem as unhas
fracas". Ele: "E suas coxas emagreceram". Ela: "Se lhe interessa,
já não engulo ar, a barriga não incha e não solto gases". Ele: "Algum dia vai me perdoar?". Ela:
"Depende. Veremos". O casal se
beija. Um par mais velho, ao fundo, faz caretas de desaprovação.
É o cineasta espanhol em seu
humor mais desavergonhado que
se vê em "Labirinto" e em "Maus
Hábitos", lançados agora em vídeo e DVD, respectivamente.
São filmes do princípio dos
anos 80 -o primeiro, de 82, e o
segundo, de 83-, os primeiros
Almodóvar da etapa comercial.
Antes, havia feito 14 pequenos
filmes, ainda mais radicais em termos estéticos e nos títulos, como
"Sexo Va, Sexo Viene" (77).
Nesses dois filmes dos 80, Almodóvar insinua o que poderia
ser do futuro do planeta se fosse
possível excluir da história a aparição da Aids.
Em "Labirinto", Imanol Arias é
Riza Niro, o filho do ex-imperador do Tirã (gozação explícita
com o Irã, que vivia sua Revolução Islâmica), incógnito e ao mesmo tempo explícito, caçando pelas ruas de Madri. Riza gosta de
meninos, e de meninas também.
Cecilia Roth, de "Tudo Sobre
Minha Mãe", é Sexília, perdida na
noite madrilena até que encontra
seu príncipe e salvador.
Antonio Banderas também
aparece, jovem, em cenas calientes, como era de costume em seus
papéis almodovarianos.
Os personagens são exagerados
e deliciosos: a psicóloga tarada
que passa roupa enquanto atende
a paciente; a ex-imperatriz Toraya, que assedia o enteado; a moça
da tinturaria, que é estuprada dia
sim, dia não pelo pai, que pensa
ser ela a mãe que fugiu.
Com "Maus Hábitos", Pedro
Almodóvar cutuca a igreja. Não
há, no convento das redentoras
humilhadas, quem já tenha sido
santa. A madre superiora, lésbica,
é viciada em heroína, enquanto
sua aparentemente mais pudica
seguidora esconde uma segunda
personalidade sob o hábito: é autora de folhetins cheios de sexo,
drogas e perversões.
São filmes para rir do princípio
ao fim. Algumas vezes sutil, noutras, escrachado. Almodóvar não
tem chances então de concorrer
ao Oscar e está à vontade.
Para os fãs do cineasta, curiosidades: ele aparece em "Labirinto"
interpretando um diretor e cantando um rock "drogadicto". E,
em "Maus Hábitos", é um passageiro na cena do ônibus.
Avaliação:
Lançamento: Labirinto das Paixões
Título original: Laberinto de Pasiones
Produção: Espanha, 1982
Distribuidora: Cult Filmes
Avaliação:
Lançamento: Maus Hábitos
Título original: Entre Tinieblas
Produção: Espanha, 1983
Distribuidora: Cult Filmes
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