São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Mark Wallinger, que representou a Inglaterra na Bienal de Veneza, e Cláudia Marchetti são destaques

Pintura britânica é aperitivo da Bienal

DA REPORTAGEM LOCAL

O artista plástico e professor Gerard Hemsworth dirige o Goldsmiths College da Universidade de Londres há 20 anos. Ele foi o responsável por tornar o local um celeiro de uma nova geração de artistas britânicos, vários alavancados pela mostra "Sensation", em 97.
Há dois anos, Hemsworth esteve no Brasil, em busca de um local para uma exposição sobre pintura. Seu contato foi a artista Cláudia Marchetti, a primeira brasileira a estudar no curso inglês, já há dez anos.
"O Brasil está de fato no circuito internacional, expôr aqui valoriza o currículo dos artistas, e por isso a mostra que Gerard organiza trará o que há de melhor na pintura inglesa contemporânea", diz Marchetti à Folha.
"Pintura como uma Linguagem Estranha", com curadoria de Hemsworth, será uma das sensações pré-Bienal, não só pela excelente palheta de artistas, mas por focar a pintura, linguagem que, após o domínio da fotografia, do vídeo e das instalações nos anos 80 e 90, volta a ganhar fôlego nas artes plásticas. Tanto que o curador da Bienal, Alfons Hug, tentou limitar o espaço de vídeos na mostra. Mas não teve muito sucesso. No segundo andar do pavilhão da Bienal já está sendo construído um imenso corredor para os vídeos.
A mostra que é inaugurada no dia 21, no Centro Cultural Britânico, apresenta 23 artistas que passaram pelo Goldsmiths College, entre eles a própria Marchetti, o sarcástico Mark Wallinger -que representou a Inglaterra no ano passado na Bienal de Veneza (a obra está reproduzida ao lado)- e outros que passaram pela "Sensation", como Alain Miller.
A abertura da exposição funcionará como a festa da representação britânica na Bienal. Londres é uma das 12 cidades que compõem a seção "Iconografias Metropolitanas", no evento, portanto terá cinco artistas (Glenn Brown está na Bienal e no Centro Cultural Britânico), além da representação nacional, feita pelo videoartista irlandês Willie Doherty.
"Para que a pintura contemporânea evite perder seu criticismo e seja apreciada e assimilada, é preciso questionar a linguagem e o modo como ela é encarada em nossa cultura. Os artistas que integram esta mostra apresentam uma visão da pintura contemporânea e de representação pictórica ao mesmo tempo crítica e insistente -dois diálogos que formam as condições nas quais elas atuam", afirma Hemsworth no catálogo da exposição.
Um exemplo da função crítica a que o curador se refere é a obra de Marchetti. A artista faz referência direta ao norte-americano Pollock, criador da action-painting. Ela pinta no chão, como o artista, mas em chapas de policarbonato, um resistente acrílico, e ao expor inverte as chapas, revelando o reverso da obra. Diálogo e ampliação com a própria história da arte.
No ano passado, São Paulo recebeu a ótima mostra inglesa "Landscape", no Museu de Arte de São Paulo. Foi a última estação de uma longa itinerância. "Pintura como uma Linguagem Estranha" é inaugurada em São Paulo e depois segue para importantes cidades da Europa ao longo do ano. É um bom começo para a Bienal de São Paulo. Tomara que seja mantido o nível. (FABIO CYPRIANO)



PINTURA COMO UMA LINGUAGEM ESTRANHA. Mostra com 46 obras de 23 artistas da nova geração britânica, como Glenn Brown, John Chilver e Michael Stubbs. Curadoria: Gerard Hemsworth. Onde: Centro Cultural Britânico (r. Ferreira de Araújo, 741, tel. 0/xx/11/ 3093-0553). Quando: abertura dia 21, às 20h (para convidados); de seg. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 10h às 16h. Até 17/4. Quanto: entrada gratuita. Patrocinador: Cultura Inglesa.



Texto Anterior: Artes plásticas: Muito além da Bienal
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.