|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GASTRONOMIA
ÁFRICA DO SUL
Comida e ótimos vinhos carregam forte influência mediterrânea
Cozinha negra se esconde no ar europeu do país
JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA
A primeira dificuldade de um
visitante da África do Sul é perceber que está na África. Seja pela
paisagem humana, onde nos altos
postos (a não ser no governo)
quase só há brancos, seja porque é
mais fácil encontrar cozinha européia e asiática do que a das nações negras do continente. O
apartheid, que ruiu legalmente
em 1994, deixou marcas sociais
que ainda não foram apagadas.
"Só agora começamos a ter orgulho de nossa cultura e, portanto, da comida nativa; aqui não
existia amor próprio no apartheid", diz a autora de livros gastronômicos Lannice Snyman,
branca, mas interessada pela cozinha que os zulus, os xhosa, os
swazi praticavam no território
sul-africano. Difícil de achar nas
grandes cidades.
Uma dose de África na veia é dada nos parques nacionais, onde
hotéis de selva (lodges) sediam safáris. Uma estadia no luxuoso
Mala Mala (de safári fotográfico,
no parque Kruger) é inesquecível:
os passeios de jipe pela savana, os
silenciosos contatos de primeiro
grau com famílias de leões, leopardos, elefantes, rinocerontes,
búfalos (os cinco mais perigosos
para caça) emocionam.
Mas a comida é pouco aventureira. Quase não há caça, só um
discreto recheio de antílope na
panqueca. Gafanhotos fritos e papas de milho que os batedores, todos negros, comem em casa com
os dedos não chegam às mesas
compartilhadas por hóspedes e
guias (rangers) de olhos azuis.
Fora dali, as grandes cidades ou
roteiros turísticos, como a Garden
Route (pela costa sudeste, beirando belas paisagens no oceano Índico), revelam um panorama gastronômico surpreendente. Mistura de influência indonésia (especialmente na Cidade do Cabo) e
indiana (concentrada mais na cidade de Durban), vindas do leste,
com holandesa (afrikaner); e uma
madura culinária européia, franco-italiana, reforçada pela presença dos ótimos vinhos do país (leia
texto nesta página).
O gourmet que visita os safáris e
depois passeia pelo país não terá
queixas com a qualidade de ingredientes como ostras, lulas, peixes,
lagosta, avestruz e cordeiro, preparados com requintes de alta cozinha. Mesmo em grandes hotéis
(o Michelangelo, em Johannesburgo) e, claro, nos Relais & Châteax (Grande Roche, em Paarl;
Marine, em Hermanus; Plettenberg, em Plettenberg Bay). Sem
falar nas vinícolas que servem comida, como a Cabrière e a Constantia Uitsig (que começou apenas como hotel). Quase todos
com chefs de cozinha europeus.
Já a cozinha nativa é difícil de
achar. Na Cidade do Cabo há o
Africa Café, onde um menu de 16
pratos cobre várias regiões do
continente, com itens como milho cozido (uma variedade doce),
bolinhos de cereais, fritadas de
peixe, carnes condimentadas.
Em Johannesburgo, um táxi pode levar ao Soweto (bairro onde
os negros eram confinados na
época do apartheid). Tomado por
turistas, ali fica o Wandie's Place,
onde um bufê oferece a comida típica, que lembra um pouco a do
sertão brasileiro: ricos ensopados
(de galinha, de tripas, de cordeiro), poucos pescados, cremes e
papas de cereais e legumes (milho, batata), pimenta moderada.
Cozinheiros negros. Calor na sala.
Um gosto de África.
O colunista Josimar Melo viajou a convite do Escritório de Turismo da África
do Sul e da South African Airlines
Texto Anterior: Erudito: Scholl e a música por trás da música por trás da música Próximo Texto: Franceses deram impulso à produção de vinhos Índice
|