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Lago expõe contradições de sua trajetória artística
especial para a Folha
Como o título indica, "Mário Lago: Boemia e Política" privilegia
dois lados em princípio contraditórios desse que é uma das figuras
mais versáteis do cenário artístico-popular urbano brasileiro do
século 20.
Afinal, em quase sete décadas de
carreira, ele já acumulou as atividades de compositor, autor teatral, radialista, ator de teatro e de
televisão.
Lago, hoje com 86 anos, começou a militar cedo no PCB (Partido
Comunista Brasileiro): esse ainda
vivia na ilegalidade, e ele era o
clandestino Pádua.
Foi muitas vezes preso, engajou
na política sindical, liderou greves.
O incômodo moralismo dos companheiros não afetou nem um
pouco sua ideologia, à qual manteve-se fiel, conciliando os valores
marxistas com os boêmios.
Bordéis
Aspectos como esses, de sua trajetória de comunista, são os mais
intensiva e extensivamente narrados no livro, que também aborda
muito bem a sua vida boêmia iniciada nos bares e bordéis do bairro
da Lapa, no Rio, ainda nos anos
20, e que prosseguiu mais tarde
em Copacabana.
O que poderia ter sido melhor
descrito é o seu percurso como
compositor.
Mário Lago foi destaque no meio
musical das décadas de 30 e 40; são
dele, por exemplo, as letras de
clássicos como "Ai Que Saudades
da Amélia", parceria com Ataulfo
Alves, "Nada Além", com Custódio Mesquita, e "Aurora", com
Roberto Riberti.
Viveu, de dentro, uma fase áurea
da MPB e conviveu com seus
maiores criadores. Pena que essa
fonte, tão rica, não tenha sido
mais avidamente explorada no livro.
Melhor cobertura tiveram seus
trajetos como dramaturgo, radialista e artista televisivo.
Rio antigo
Isso é: suas marcantes atuações
como autor de teatro de revista
(nos anos 30), de novelas e musicais de rádio (onde trabalhou de
42 até 64, quando foi demitido da
Nacional, logo após o golpe militar) e como autor (desde 54) e ator
de novelas (desde 66, na Globo) de
TV.
Tais atividades, mais do que reportadas, tornam-se objeto de reflexões e revisões, ora a cargo do
próprio biografado -cujo depoimento serviu de base para o trabalho-, ora da biógrafa, Mônica
Velloso.
Essa passa daquele uma visão de
humanidade, evidenciada já na
exposição da sua formação desde a
infância e da influência de seus antecedentes.
Doutora em história social, ela
também contextualiza a vida e
obra de Lago num âmbito mais
amplo, contando, em paralelo,
um pouco da história do Rio antigo e dos meios em que ele atuou.
Ao final, relaciona em quadros
as músicas que compôs e as peças,
os filmes e as novelas e seriados de
que participou.
(CR)
Livro: Mário Lago: Boemia e Política
Autora: Mônica Velloso
Lançamento: Fundação Getúlio Vargas
Quanto: R$ 29 (404 págs.)
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