São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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Lago expõe contradições de sua trajetória artística

especial para a Folha

Como o título indica, "Mário Lago: Boemia e Política" privilegia dois lados em princípio contraditórios desse que é uma das figuras mais versáteis do cenário artístico-popular urbano brasileiro do século 20.
Afinal, em quase sete décadas de carreira, ele já acumulou as atividades de compositor, autor teatral, radialista, ator de teatro e de televisão.
Lago, hoje com 86 anos, começou a militar cedo no PCB (Partido Comunista Brasileiro): esse ainda vivia na ilegalidade, e ele era o clandestino Pádua.
Foi muitas vezes preso, engajou na política sindical, liderou greves. O incômodo moralismo dos companheiros não afetou nem um pouco sua ideologia, à qual manteve-se fiel, conciliando os valores marxistas com os boêmios.
Bordéis
Aspectos como esses, de sua trajetória de comunista, são os mais intensiva e extensivamente narrados no livro, que também aborda muito bem a sua vida boêmia iniciada nos bares e bordéis do bairro da Lapa, no Rio, ainda nos anos 20, e que prosseguiu mais tarde em Copacabana.
O que poderia ter sido melhor descrito é o seu percurso como compositor.
Mário Lago foi destaque no meio musical das décadas de 30 e 40; são dele, por exemplo, as letras de clássicos como "Ai Que Saudades da Amélia", parceria com Ataulfo Alves, "Nada Além", com Custódio Mesquita, e "Aurora", com Roberto Riberti.
Viveu, de dentro, uma fase áurea da MPB e conviveu com seus maiores criadores. Pena que essa fonte, tão rica, não tenha sido mais avidamente explorada no livro.
Melhor cobertura tiveram seus trajetos como dramaturgo, radialista e artista televisivo.
Rio antigo
Isso é: suas marcantes atuações como autor de teatro de revista (nos anos 30), de novelas e musicais de rádio (onde trabalhou de 42 até 64, quando foi demitido da Nacional, logo após o golpe militar) e como autor (desde 54) e ator de novelas (desde 66, na Globo) de TV.
Tais atividades, mais do que reportadas, tornam-se objeto de reflexões e revisões, ora a cargo do próprio biografado -cujo depoimento serviu de base para o trabalho-, ora da biógrafa, Mônica Velloso.
Essa passa daquele uma visão de humanidade, evidenciada já na exposição da sua formação desde a infância e da influência de seus antecedentes.
Doutora em história social, ela também contextualiza a vida e obra de Lago num âmbito mais amplo, contando, em paralelo, um pouco da história do Rio antigo e dos meios em que ele atuou.
Ao final, relaciona em quadros as músicas que compôs e as peças, os filmes e as novelas e seriados de que participou.
(CR)

Livro: Mário Lago: Boemia e Política
Autora: Mônica Velloso
Lançamento: Fundação Getúlio Vargas
Quanto: R$ 29 (404 págs.)



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