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TELEVISÃO
Oscar 2000 fica mais "clean"
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
A cerimônia de entrega do Oscar deste ano não ofereceu o mesmo show de cafonice de edições
anteriores, com cenários estapafúrdios e números dispensáveis.
Talvez devido ao esforço -não
atingido- de melhorar no quesito tempo, e também de acordo
com o estilo ligeiramente mais
ousado da premiação, a produção
do espetáculo de premiação das
estrelas do espetáculo tenha ficado mais "clean".
Quando sentam-se na platéia à
espera da sua vez de subir ao palco, atores, atrizes, diretores, roteiristas, tal como os escolares americanos, treinados a disputar desde cedo, vivem a expectativa da
premiação. É como cidadãos de
carne e osso que os candidatosaguardam o anúncio do prêmio.
É nessa condição que se comportam de maneira semelhante
aos calouros participantes de gincanas na TV. Emocionam-se com
o sucesso, discursam com a voz
embargada, choram, cumprimentam seus familiares, mandam beijos as seus colaboradores.
O protocolo é rígido. O ritmo,
acelerado. A marcação dos movimentos, rigorosamente cronometrada. O tempo que cada um tem
para agradecer o prêmio é curto,
limita a improvisação, que no
mais das vezes parte de estrangeiros. Como Benigni no ano passado, Almodóvar esse ano teve sua
performance interrompida. Wajda falou em polonês.
A formalidade restringe também comentários inteligentes ou
toque críticos. Num raro momento mais denso, Hilary Swank saudou a diversidade.
Além de premiar, a cerimônia
se dedica a rememorar. Desde a
apresentação de Billy Crystal,
contracenando por efeito digital
com protagonistas de filmes clássicos, até a seleção de músicas legendárias executadas ao vivo por
um time que incluiu Ray Charles,
a Academia não esquece de recuperar a história na criação do presente.
A tarefa dos comentaristas brasileiros da entrega do Oscar é ingrata, espremidos pelo tempo escasso e distantes do calor do espetáculo ao vivo.
O SBT, que voltou a transmitir a
premiação este ano, precisa adequar o tom. Há coisas demais para pouco tempo. Há tradução simultânea e comentários informativos enriquecedores de Rubens
Ewald, mediados pela simpatia,
nesse caso inexperiente, de Babi,
além de transmissões diretas de
uma festa brega, desanimada e
dispensável no Gallery.
Mais sóbrio, José Wilker dá o
seu recado sucinto, situando os
acontecimentos, nos intervalos
do Telecine, que transmite o som
original em inglês -conveniente
para quem entende.
As celebridades do cinema são
como os deuses de um mundo
que, ao longo dos tempos, foi tomando fé na capacidade humana
de realizar coisas. A indústria do
espetáculo é um dos grandes produtos da ciência e da tecnologia.
Ela expõe os mecanismos de criação dos mitos, tornando visível e
acessível seu processo de constituição.
Avaliação:
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