São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2000


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TELEVISÃO
Oscar 2000 fica mais "clean"

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha

A cerimônia de entrega do Oscar deste ano não ofereceu o mesmo show de cafonice de edições anteriores, com cenários estapafúrdios e números dispensáveis.
Talvez devido ao esforço -não atingido- de melhorar no quesito tempo, e também de acordo com o estilo ligeiramente mais ousado da premiação, a produção do espetáculo de premiação das estrelas do espetáculo tenha ficado mais "clean".
Quando sentam-se na platéia à espera da sua vez de subir ao palco, atores, atrizes, diretores, roteiristas, tal como os escolares americanos, treinados a disputar desde cedo, vivem a expectativa da premiação. É como cidadãos de carne e osso que os candidatosaguardam o anúncio do prêmio.
É nessa condição que se comportam de maneira semelhante aos calouros participantes de gincanas na TV. Emocionam-se com o sucesso, discursam com a voz embargada, choram, cumprimentam seus familiares, mandam beijos as seus colaboradores.
O protocolo é rígido. O ritmo, acelerado. A marcação dos movimentos, rigorosamente cronometrada. O tempo que cada um tem para agradecer o prêmio é curto, limita a improvisação, que no mais das vezes parte de estrangeiros. Como Benigni no ano passado, Almodóvar esse ano teve sua performance interrompida. Wajda falou em polonês.
A formalidade restringe também comentários inteligentes ou toque críticos. Num raro momento mais denso, Hilary Swank saudou a diversidade.
Além de premiar, a cerimônia se dedica a rememorar. Desde a apresentação de Billy Crystal, contracenando por efeito digital com protagonistas de filmes clássicos, até a seleção de músicas legendárias executadas ao vivo por um time que incluiu Ray Charles, a Academia não esquece de recuperar a história na criação do presente.
A tarefa dos comentaristas brasileiros da entrega do Oscar é ingrata, espremidos pelo tempo escasso e distantes do calor do espetáculo ao vivo.
O SBT, que voltou a transmitir a premiação este ano, precisa adequar o tom. Há coisas demais para pouco tempo. Há tradução simultânea e comentários informativos enriquecedores de Rubens Ewald, mediados pela simpatia, nesse caso inexperiente, de Babi, além de transmissões diretas de uma festa brega, desanimada e dispensável no Gallery.
Mais sóbrio, José Wilker dá o seu recado sucinto, situando os acontecimentos, nos intervalos do Telecine, que transmite o som original em inglês -conveniente para quem entende.
As celebridades do cinema são como os deuses de um mundo que, ao longo dos tempos, foi tomando fé na capacidade humana de realizar coisas. A indústria do espetáculo é um dos grandes produtos da ciência e da tecnologia. Ela expõe os mecanismos de criação dos mitos, tornando visível e acessível seu processo de constituição.


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