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TEATRO INGLATERRA
Fiennes repete no palco o sucesso das telas
MARIA CRISTINA FRIAS
em Londres
Ralph Fiennes pode não ter agradado tanto à Academia de Hollywood, que preferiu dar o Oscar de
melhor ator a Geoffrey Rush, de
"Shine - Brilhante", mas é atualmente o maior sucesso dos palcos
londrinos.
Apesar de os ingressos para vê-lo
em "Ivanov", do dramaturgo
russo Chekhov (1860-1904), terem
se esgotado desde o início da temporada, em fevereiro, há fãs do
protagonista do filme "O Paciente
Inglês" diariamente, já na madrugada, na porta do Almeida Theatre
tentando conseguir uma entrada.
A peça, considerada uma obra
menor pelo próprio Chekhov, tem
momentos melodramáticos que a
distanciam do realismo que o autor buscou em seus trabalhos mais
maduros. Oscilando entre a farsa e
o drama, tem também tiradas de
humor caricatural, na sátira à sociedade russa.
O personagem-título, entretanto, é complexo e dá a Ralph Fiennes (segundo o ator, o nome vem
do inglês arcaico e se pronuncia
"Reif Fainis") a oportunidade de
mostrar o grande ator que é no teatro, onde começou sua carreira.
Ivanov é um homem endividado, angustiado e confuso com o
próprio comportamento, ora
egoísta, ora piedoso em relação à
mulher, Anna Petrovna, que está
morrendo de tuberculose.
Sacha, uma moça muito mais jovem, se apaixona por ele, o que só
aumenta o seu sentimento de culpa. Ele é acusado de ter se envolvido com as duas mulheres por interesse e de agravar o estado de saúde de Anna com suas atitudes.
Descontrolado, conta aos berros
para a mulher que ela vai morrer
em breve, depois de tê-la chamado
de "judia suja". Logo em seguida,
cai de remorsos, desesperado.
Especialmente em pequenos
monólogos, muitas vezes com fúria, Fiennes reproduz bem as contradições de Ivanov, tido como um
Hamlet russo. O ator já interpretou também esse personagem de
Shakespeare em 1995, em uma
montagem do mesmo diretor de
"Ivanov", Jonathan Kent. Na
ocasião, foi cobrado pela crítica
por não ter concebido um Hamlet
atormentado o bastante.
A compensação veio agora: o
personagem russo está mais dinamarquês do que nunca. Ou mais
inglês na pele de Fiennes, que não
deixa escapar nenhum detalhe.
Nos olhos claros, a imagem da depressão, o rosto pálido, o corpo às
vezes curvado pelo torpor, as explosões de dúvida, de autocrítica
-e de crueldade, bem pior que a
de Hamlet com Ofélia na cena em
que a manda para o convento.
Diferentemente do príncipe dinamarquês, no entanto, Ivanov
não tem de quem se vingar e se vê
paralisado ante os seus problemas
de falta de dinheiro e de amor pela
mulher.
É essa figura inerte, quase tragada pela ação que o público encontra assim que entra na platéia.
Ralph Fiennes já está no palco,
apoiado sobre uma mesinha, lendo, indiferente à movimentação
das pessoas.
Fiennes contracena com bom
elenco -Harriet Walter, que vive
Anna Petrovna, é conhecida por
seu trabalho como Fanny Dashwood em "Razão e Sensibilidade"
-mas monopoliza a atenção da
platéia quando está em cena.
A montagem, apesar de ser do
inovador Almeida Theatre, é das
mais tradicionais. Nada ofusca o
astro. Iluminação e figurino discretos, cenário correto que gira sobre o palco, compondo os três ambientes: o jardim e o escritório de
Ivanov, além do hall da casa do pai
de Sacha.
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