São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2008

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análise

Obra do diretor exala perfume nostálgico

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Eficaz e bom artesão foram dois dos epítetos usados com maior freqüência por comentadores de todas as latitudes ao julgar os títulos que compõem a filmografia de Sydney Pollack.
O uso desses termos revela quase sempre um respeito pelo profissionalismo e competência na longa atividade no seio da indústria, o que já seria mais que suficiente para creditar mérito à trajetória de Pollack. E funcionam como elogio, na falta de um entusiasmo maior devido à ausência de sinais evidentes de originalidade.
Desde sua entrada no universo da ficção, pelo atalho da TV, no início dos anos 60, passando pelo sucesso de estima de alguns de seus trabalhos até meados dos anos 70, o relevo da trajetória de Pollack no cinema deriva de sua noção apurada de oportunismo. Tal estratégia consistiu em executar, a contento, as encomendas da indústria e em se associar a estrelas, regendo-as sem a ambição de roubar a cena, em esquemas de produção característicos do que chamamos "veículo".
O parceiro mais constante nessas colaborações foi Robert Redford, com quem Pollack trabalhou sete vezes entre 1966 e 1991. Com sua lista de atores, sempre de primeiro time, o diretor soube se adequar às transformações históricas, mantendo-se no topo com filmes capazes de seduzir o grande público interessado em nomes como Jane Fonda, Barbra Streisand, Al Pacino, Paul Newman, Dustin Hoffman, Meryl Streep, Tom Cruise e Harrison Ford.
Outra habilidade foi saber usar os códigos dos gêneros, transitando com segurança do melodrama ao thriller político, da comédia ao western e misturando a eles uma dose de contemporaneidade (a ecologia em "Jeremiah Johnson", o feminismo em "Tootsie", a globalização em "A Intérprete") ou um pano de fundo politizado (a Depressão em "A Noite dos Desesperados", a caça às bruxas em "Nosso Amor de Ontem", a guerra fria em "Os Três Dias do Condor").
Situada entre o ocaso do sistema dos estúdios, a partir do fim dos anos 50, e o advento do "blockbuster" turbinado por efeitos especiais, do fim dos anos 70 em diante, a carreira de Pollack exala um perfume nostálgico, uma paixão por histórias carregadas pelo magnetismo dos atores, que o diretor soube terminar antes que os patrões a declarassem irremediavelmente antiquada.


leia texto de Inácio Araujo sobre Sydney Pollack


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