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análise
Obra do diretor exala perfume nostálgico
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Eficaz e bom artesão
foram dois dos epítetos usados com
maior freqüência por comentadores de todas as latitudes ao julgar os títulos que
compõem a filmografia de
Sydney Pollack.
O uso desses termos revela
quase sempre um respeito
pelo profissionalismo e competência na longa atividade
no seio da indústria, o que já
seria mais que suficiente para creditar mérito à trajetória de Pollack. E funcionam
como elogio, na falta de um
entusiasmo maior devido à
ausência de sinais evidentes
de originalidade.
Desde sua entrada no universo da ficção, pelo atalho
da TV, no início dos anos 60,
passando pelo sucesso de estima de alguns de seus trabalhos até meados dos anos 70,
o relevo da trajetória de Pollack no cinema deriva de sua
noção apurada de oportunismo. Tal estratégia consistiu
em executar, a contento, as
encomendas da indústria e
em se associar a estrelas, regendo-as sem a ambição de
roubar a cena, em esquemas
de produção característicos
do que chamamos "veículo".
O parceiro mais constante
nessas colaborações foi Robert Redford, com quem Pollack trabalhou sete vezes
entre 1966 e 1991. Com sua
lista de atores, sempre de
primeiro time, o diretor soube se adequar às transformações históricas, mantendo-se no topo com filmes capazes de seduzir o grande público interessado em nomes
como Jane Fonda, Barbra
Streisand, Al Pacino, Paul
Newman, Dustin Hoffman,
Meryl Streep, Tom Cruise e
Harrison Ford.
Outra habilidade foi saber
usar os códigos dos gêneros,
transitando com segurança
do melodrama ao thriller político, da comédia ao western
e misturando a eles uma dose
de contemporaneidade (a
ecologia em "Jeremiah
Johnson", o feminismo em
"Tootsie", a globalização em
"A Intérprete") ou um pano
de fundo politizado (a Depressão em "A Noite dos Desesperados", a caça às bruxas
em "Nosso Amor de Ontem",
a guerra fria em "Os Três
Dias do Condor").
Situada entre o ocaso do
sistema dos estúdios, a partir
do fim dos anos 50, e o advento do "blockbuster" turbinado por efeitos especiais,
do fim dos anos 70 em diante, a carreira de Pollack exala
um perfume nostálgico, uma
paixão por histórias carregadas pelo magnetismo dos
atores, que o diretor soube
terminar antes que os patrões a declarassem irremediavelmente antiquada.
leia texto de Inácio Araujo sobre Sydney Pollack
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