São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997.



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"RESPIRAÇÃO QUENTE"

"Nos encontramos em aeroportos. Nós nos encontramos em lugares onde nunca tínhamos estado antes. Nós nos encontramos onde ninguém poderia nos reconhecer. Um de nós tomaria um avião, o outro traria um carro, e partiríamos para algum destino. Os lugares sempre pareciam irreais: a floresta Petrificada, o Monument Valley, o Grand Canyon -lugares belos e desolados como aqueles que são revelados em fotografias tiradas por satélites mostrando imagens de planetas distantes. Sem ar, em fogo, inumanos.
Contra minhas lágrimas, meu pai toma meu rosto em suas mãos. Beijava meus olhos fechados, minha garganta. Eu sinto seus dedos em meus cabelos. Eu sinto sua respiração quente.
(...) A estrada sempre parece sem fim à nossa frente e atrás de nós; estávamos fora do tempo e distantes dos cenários. Nós vamos para Muir Woods, ao norte da Califórnia, em meio à neblina azulada que faz com que a estrada desapareça; e nós partimos para Natchez Trace, no profundo e verde verão do Mississipi.
(...) Separado da família pelo tempo, pelo trabalho e pelo álcool, olhando uma caverna de milhares de anos e assistindo aos morcegos voando das Carlsbad Caverns. Essa ausência de tempo e de lugares são a única casa que temos agora.
(...) Uma vez mais nós retornamos para "expressões de amor". Ele deve me possuir fisicamente pois apenas assim ele estará seguro do compromisso que temos. Nada mais. Nada menos. Isso significa que sem essas garantias ele não me amará mais? Eu não faço perguntas.
'É possível que você não perceba minha devoção?"'

Trechos do romance "The Kiss", da escritora norte-americana Kathryn Harrison



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