São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2005

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DOCUMENTÁRIO

Especial desperdiça a riqueza dos krahós

CLAUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma colcha de retalhos sem costura. É como pode ser definido o documentário "A Visão do Xamã", exibido pela STV. Realizada na aldeia Santa Cruz, em Tocantins, entre os índios krahós, a produção é amadora do início ao fim.
O tema bem que tinha elementos para serem bem explorados: os krahós são considerados os primeiros habitantes da América do Sul, herdeiros do conhecimento medicinal das plantas e do poder da cura. A aldeia tem uma parceria com a Embrapa e a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) para o estudo das plantas medicinais. Das 400 espécies recolhidas na mata, 138 têm ação neurológica -mas apenas 11 eram conhecidas pelos cientistas.
Mas nem isso a produção soube aproveitar. A informação aparece perdida, no meio do programa, sem imagens ou entrevistas que a valorizem. Ao tentar abordar aspectos da mitologia desse povo, como a lenda de Tirkre, o primeiro xamã krahó, o documentário se apóia em frases literais extraídas da obra do mitólogo Joseph Campbell, mas deixa o telespectador ainda mais confuso.
Grande parte do texto não tem amarração com as imagens e as entrevistas, que, em geral, são longas. É falha a identificação dos entrevistados, inclusive dos xamãs, e das cenas exibidas. Também não dá para entender por que a produção resolveu traduzir para o português a fala (em português) de um dos índios entrevistados.
A essa altura, você, telespectador, deve estar se perguntando: se é tão ruim assim, merece ser assistido? Merece. Ainda que não tenha tido esse propósito, o documentário revela o triste retrato desse povo indígena: aculturado, caçando com armas de fogo, vivendo em uma área cercada de plantações de soja e vendo suas águas serem contaminadas por agrotóxicos. Se tivesse ido por esse caminho, o programa talvez pudesse ter prestado um melhor serviço.


A Visão do Xamã
Quando:
hoje, às 14h, amanhã às 18h30, na STV


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