São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS CAREQA
Estranheza move disco

da Reportagem Local
Compositor paranaense iconoclasta e já veterano, Carlos Careqa, um dos autores de eleição até agora de Rita Ribeiro, lançou já há alguns meses seu segundo álbum, "Música para Final de Século", independente e despercebido.
É um painel de excentricidades. Contempla até certo ponto comercial versão de autor para "Cortei o Dedo" (dele e de Raul Cruz), que Rita gravou em 1997 ("Eclipse em Meia-Lua", que ela acaba de gravar, também está aqui), mas a forra de estranheza, em interpretação de sotaque castelhano por Anna Clementi. E estranheza é o que move seu disco.
Caso exemplar de desterritorialização, "Música para Final de Século" faz o paranaense parecer hippie baiano (ou antibaiano, em "Ser Igual É Legal"), forrozeiro cearense ("Chorando em 2001") ou sambista carioca manso ("Não Pise nos Meus Carlos", "Vou Sair As Comprinhas").
Careqa quer parecer ser internacional, globalizando-se nas cerebrais demais "Manhattan Tan Tan", o inventário de viagem "A Cor de Nova York", "No Caminho para Santiago".
Tal nomadismo é revestido de arranjos percussivos, tênues, de voz suave e equalizada, de letras densas, incisivas ("meu anjo da guarda brigou com Deus", em "No Caminho para Santiago", ou "farelo de tristeza/ multiplica a divisão/ bandejas de vontade/ tira-gosto de ilusão", em "São Solidão"), às vezes extemporâneas (a de "Música para Final de Século").
A discussão se dá sempre em torno dos descaminhos da pós-modernidade, com resultados muitas vezes... pós-modernos. Exemplos? "Não Minta pra Mim" ("será que banana é fruta?/ E o abacate, que fruta é?/ Sexo com animais é luxo?/ Será que sou de Oxossi ou de Oxum?/ Será que eu vou mudar minha conduta? (...)/ Filho da puta também é filho?" -o concreto-cabecismo de Arnaldo Antunes se espalha por aí), "Não Pise nos Meus Carlos" ("Eu sou Carlos/ Estou no plural/ Tão bonzinho/ E tão marginal/ Eu vou bem/ Bem obrigado/ Tantos carecas/ Do meu lado") etc.
Mas o que nunca oscila são as potentes composições musicais, pedra de toque da produção de Careqa.
Caso em que a calma e a tranquilidade são tantas que uma obra quase vai passando quase em branco, é também exemplo a mais da inimizade entre calma e imprecisão. (PAS)


Avaliação:   


Disco: Música para Final de Século
Artista: Carlos Careqa
Lançamento: Thanx God (tel. 011/ 277-5915)
Quanto: R$ 18, em média


Texto Anterior: Devagar, a cantora está chegando lá
Próximo Texto: Astrologia - Oscar Quiroga: É Lua cheia em Capricórnio
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.