São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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MÚSICA

Itaú Cultural homenageia o compositor e luthier suíço-brasileiro com o espetáculo "Plásticas Sonoras" e o Coletivo Digital

Smetak "regressa" e traz seus instrumentos-esculturas

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Walter Smetak (1913-1984) disse que voltaria em 2005. Tanto é que batizou uma peça e um de seus 150 instrumentos musicais de M2005. O regresso começou em março deste ano no Festival Maerzmusik, em Berlim, com "Smetak, Plásticas Sonoras".
O espetáculo, inédito no Brasil, aporta agora no Itaú Cultural, em São Paulo, conduzido pelos músicos Lívio Tragtenberg, Tuzé de Abreu, Wilson Sukorski, Tato Taborda, Thomas Gruetzmacher e Gereba. O instituto terá ainda um workshop sobre o compositor suíço-brasileiro e a apresentação do Coletivo Digital, com Loop B, Chico Correa e Pedro Osmar.
Em agosto, uma mostra de plástica sonora deve levar ao Sesc Pinheiros alguns instrumentos do acervo de Smetak -coleção que a família tenta vender (leia ao lado). Há ainda planos para a produção de um DVD com o material captado durante as exibições de "Smetak, Plásticas Sonoras". Prova de que a obra do compositor, inspirador da tropicália, mestre de Gilberto Gil e homenageado por Caetano Veloso em "Épico", tem fôlego (e mérito) para ir além.

Plásticas sonoras
Incitados pelos organizadores do festival berlinense a criar um trabalho tendo como base a obra de Smetak, os seis músicos que se apresentam hoje e amanhã no Itaú Cultural se reuniram em torno de uma peça feita por Thomas Gruetzmacher, "Microtoniza-Te". Composta por seis partes, é tocada com o violão microtom, que consta de seis violões, sendo que cada um tem as seis cordas afinadas de modo a compor um intervalo de um semitom dividido em seis partes iguais.
"A peça se baseia numa coisa que ele falava, segundo a qual a idéia de colocar as cordas microtônicas nos violões ia se alastrar, e o violão mudaria a consciência do homem. O homem mudaria a natureza. A natureza mudaria o planeta. E, aí, o universo mudaria", explica Gruetzmacher.
O flautista Tuzé de Abreu, que participou das gravações dos dois únicos LPs de Smetak (o primeiro deles produzido por Caetano), destaca o talento do amigo na confecção de instrumentos (veja quadro ao lado).
"Uma vez meu violão tomou sol e ficou descolado. Me lembrei do Smetak -era um excelente luthier. Ele disse: "Joga fora!". Eu falei: "Você vai consertar". Meses depois ele me devolveu, e o violão ficou melhor do que antes", conta.
Smetak também foi escultor (premiado na Bienal da Bahia), escreveu poemas, livros e peças teatrais e fez uma coreografia. Apesar de seu legado, ainda é pouco conhecido. "É o nosso complexo de inferioridade. Não valorizamos o que é nosso. No Nokia Trends todo mundo badala porque existe apelo de mercado", diz Tragtenberg. "O Smetak é pioneiro porque ele quebra a barreira entre o ouvido e o olho. É um filósofo da tradição libertária. A obra dele é grande, é importante e desconhecida. Ele não é só o exótico como se coloca, tem obras, e elas precisam ser conhecidas. Smetak tem de ser encarado seriamente como um criador que anteviu muita coisa, até a eletrônica."
Abreu, que diz ter aprendido com Smetak a abrir a cabeça para a música e a se aperfeiçoar como homem (o compositor era da Eubiose), diz que talvez em 50 anos ele seja popular. "Os nossos códigos ainda são muito rasteiros."


Homenagem a Smetak
Quando:
Plásticas Sonoras (hoje e amanhã, 19h30); workshop (amanhã, 16h30); Coletivo Digital (sáb., às 19h30)
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/11/2168-1776)

Quanto: grátis (retirar meia hora antes)


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