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MÚSICA
Itaú Cultural homenageia o compositor e luthier suíço-brasileiro com o espetáculo "Plásticas Sonoras" e o Coletivo Digital
Smetak "regressa" e traz seus instrumentos-esculturas
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Walter Smetak (1913-1984) disse
que voltaria em 2005. Tanto é que
batizou uma peça e um de seus
150 instrumentos musicais de
M2005. O regresso começou em
março deste ano no Festival
Maerzmusik, em Berlim, com
"Smetak, Plásticas Sonoras".
O espetáculo, inédito no Brasil,
aporta agora no Itaú Cultural, em
São Paulo, conduzido pelos músicos Lívio Tragtenberg, Tuzé de
Abreu, Wilson Sukorski, Tato Taborda, Thomas Gruetzmacher e
Gereba. O instituto terá ainda um
workshop sobre o compositor
suíço-brasileiro e a apresentação
do Coletivo Digital, com Loop B,
Chico Correa e Pedro Osmar.
Em agosto, uma mostra de plástica sonora deve levar ao Sesc Pinheiros alguns instrumentos do
acervo de Smetak -coleção que a
família tenta vender (leia ao lado).
Há ainda planos para a produção
de um DVD com o material captado durante as exibições de
"Smetak, Plásticas Sonoras". Prova de que a obra do compositor,
inspirador da tropicália, mestre
de Gilberto Gil e homenageado
por Caetano Veloso em "Épico",
tem fôlego (e mérito) para ir além.
Plásticas sonoras
Incitados pelos organizadores
do festival berlinense a criar um
trabalho tendo como base a obra
de Smetak, os seis músicos que se
apresentam hoje e amanhã no
Itaú Cultural se reuniram em torno de uma peça feita por Thomas
Gruetzmacher, "Microtoniza-Te". Composta por seis partes, é
tocada com o violão microtom,
que consta de seis violões, sendo
que cada um tem as seis cordas
afinadas de modo a compor um
intervalo de um semitom dividido em seis partes iguais.
"A peça se baseia numa coisa
que ele falava, segundo a qual a
idéia de colocar as cordas microtônicas nos violões ia se alastrar, e
o violão mudaria a consciência do
homem. O homem mudaria a natureza. A natureza mudaria o planeta. E, aí, o universo mudaria",
explica Gruetzmacher.
O flautista Tuzé de Abreu, que
participou das gravações dos dois
únicos LPs de Smetak (o primeiro
deles produzido por Caetano),
destaca o talento do amigo na
confecção de instrumentos (veja
quadro ao lado).
"Uma vez meu violão tomou sol
e ficou descolado. Me lembrei do
Smetak -era um excelente luthier. Ele disse: "Joga fora!". Eu falei: "Você vai consertar". Meses depois ele me devolveu, e o violão ficou melhor do que antes", conta.
Smetak também foi escultor
(premiado na Bienal da Bahia),
escreveu poemas, livros e peças
teatrais e fez uma coreografia.
Apesar de seu legado, ainda é
pouco conhecido. "É o nosso
complexo de inferioridade. Não
valorizamos o que é nosso. No
Nokia Trends todo mundo badala
porque existe apelo de mercado",
diz Tragtenberg. "O Smetak é pioneiro porque ele quebra a barreira
entre o ouvido e o olho. É um filósofo da tradição libertária. A obra
dele é grande, é importante e desconhecida. Ele não é só o exótico
como se coloca, tem obras, e elas
precisam ser conhecidas. Smetak
tem de ser encarado seriamente
como um criador que anteviu
muita coisa, até a eletrônica."
Abreu, que diz ter aprendido
com Smetak a abrir a cabeça para
a música e a se aperfeiçoar como
homem (o compositor era da Eubiose), diz que talvez em 50 anos
ele seja popular. "Os nossos códigos ainda são muito rasteiros."
Homenagem a Smetak
Quando: Plásticas Sonoras (hoje e
amanhã, 19h30); workshop (amanhã,
16h30); Coletivo Digital (sáb., às 19h30)
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP,
tel. 0/xx/11/2168-1776)
Quanto: grátis (retirar meia hora antes)
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