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DOCUMENTÁRIO
"Terra do Mar" não se aventura em estéticas
PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha
"Terra do Mar" é um documentário que reforça a incapacidade que esse tipo de cinema tem
de abranger todas as nuanças das
coisas, as "verdades" que cada
evento tende a implicar.
Registrando o modo de vida de
pescadores do litoral norte do Paraná e sul paulista -com depoimentos e "aulas"-, o filme de
Eduardo Caron e Mirella Martinelli opta por um didatismo que
não cumpre sua função e por uma
ausência de projeto estético que
nem os teledocumentários assumem mais.
Não é de hoje, aliás, que o registro de qualquer objeto lança a
quase certeza ao espectador de que
existe uma lacuna, uma não definição e explicação do todo.
Daí uma das saídas encontradas
nessa linguagem ter sido a da
aventura cinematográfica, testando linguagens e temas que a aproximam da ênfase ficcional. Em outras palavras, optar por um aspecto (temático, estético etc.) e levá-lo às últimas consequências.
É o que se vê em "Arraial do Cabo" (59), de Paulo César Saraceni.
Falando também sobre uma vila
de pescadores, o diretor pontuava
a beleza natural bruta em tratamento fotográfico trabalhado.
Outro viés foi, por exemplo, o de
"Ilha das Flores" (89), de Jorge
Furtado, fundindo documentário,
ficção, sarcasmo e denúncia.
"Terra do Mar" optou pelo que
se fazia nos anos 40, mas sem a
construção discursiva de um regime stalinista ou macarthista. Só o
ineditismo temático para salvá-lo.
Mas o clichê do mar está lá.
Seria injusto, contudo, não
apontar a coragem de um filme
que despreza, numa época tão essencialmente visual, um tratamento arquitetado.
Filme: Terra do Mar
Produção: Brasil, 1997
Direção: Eduardo Caron e Mirella
Martinelli
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco de Cinema - sala 4
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