São Paulo, sexta, 28 de agosto de 1998

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DOCUMENTÁRIO

"Terra do Mar" não se aventura em estéticas

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

"Terra do Mar" é um documentário que reforça a incapacidade que esse tipo de cinema tem de abranger todas as nuanças das coisas, as "verdades" que cada evento tende a implicar.
Registrando o modo de vida de pescadores do litoral norte do Paraná e sul paulista -com depoimentos e "aulas"-, o filme de Eduardo Caron e Mirella Martinelli opta por um didatismo que não cumpre sua função e por uma ausência de projeto estético que nem os teledocumentários assumem mais.
Não é de hoje, aliás, que o registro de qualquer objeto lança a quase certeza ao espectador de que existe uma lacuna, uma não definição e explicação do todo.
Daí uma das saídas encontradas nessa linguagem ter sido a da aventura cinematográfica, testando linguagens e temas que a aproximam da ênfase ficcional. Em outras palavras, optar por um aspecto (temático, estético etc.) e levá-lo às últimas consequências.
É o que se vê em "Arraial do Cabo" (59), de Paulo César Saraceni. Falando também sobre uma vila de pescadores, o diretor pontuava a beleza natural bruta em tratamento fotográfico trabalhado.
Outro viés foi, por exemplo, o de "Ilha das Flores" (89), de Jorge Furtado, fundindo documentário, ficção, sarcasmo e denúncia.
"Terra do Mar" optou pelo que se fazia nos anos 40, mas sem a construção discursiva de um regime stalinista ou macarthista. Só o ineditismo temático para salvá-lo. Mas o clichê do mar está lá.
Seria injusto, contudo, não apontar a coragem de um filme que despreza, numa época tão essencialmente visual, um tratamento arquitetado.

Filme: Terra do Mar
Produção: Brasil, 1997
Direção: Eduardo Caron e Mirella Martinelli
Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco de Cinema - sala 4




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